Duas esquerdas não fazem uma direita. – Desconhecido

Há uns dois anos assisti um filme chamado Valente, com a Jodie Foster, cuja história é de uma apresentadora de rádio, Erica Bain, que sofre um ataque junto The-Brave-One-upcoming-movies-216099_1600_1200com seu namorado em um parque de Nova Iorque, e seu namorado acaba morrendo. A apresentadora sente uma revolta em relação a tudo que lhe acontecera, já que estava de casamento marcado, e há uma lassidão por parte da polícia em resolver seu caso. Em um determinado momento Erica compra uma arma e começa a matar alguns meliantes da cidade, causando uma comoção pública, sendo que sua identidade não é revelada ao público, uma espécie de justiceira anônima. Enquanto Erica pratica seus atos de justiça solitária, o detetive Merce trabalha arduamente para encontrar o tal justiceiro enquanto tenta resolver o caso de Erica. Há uma cena no filme em que entende-se que o detetive (que é muito correto em suas atitudes) desconfia de Erica e deixa claro que não hesitaria em prendê-la caso ele descobrisse que ela era a assassina. Em um determinado momento Erica descobre quem foram os assassinos de seu namorado e vai atrás de tirar satisfações, sendo que esta descoberta é feita através de um vídeo enviado para seu celular, que ela reenvia ao detetive. No confronto final, o detetive forja toda uma situação e dá a chance à Erica de se vingar daqueles assassinos, matando o último com um tiro no olho.

Onde quero chegar? Este filme levanta uma questão interessante. Até onde nosso conceito de certo e errado realmente vale na prática? O resumo que fiz é corrido demais para apresentar todos os meandros explorados pelo filme, mas o cerne da discussão é um: este policial que é correto em todos os seus atos abre mão do seu padrão moral após entender a gravidade da dor que Erica sentia. Eu convivo no meio de fundamentalistas, o que considero insuportável, não há como não vê-los como idiotas inúteis, apesar de saber que me renderia ao seu erro e acabaria sendo hipócrita. Sou homossexual, não quero ser, não escolhi, mas sou tratado como se fosse completamente responsável por isto. E pior é que sempre ouvimos um discurso impraticável de que temos que mudar a qualquer custo senão sofreremos as duras consequências de nossas escolhas. Sei que muito do preconceito que existe contra os homossexuais é culpa da própria classe LGBT que pede respeito mas não se dá respeito. Não apoio movimento gay, nem parada gay, nem PLC 122, nem deputado Jean Willys (não sei se esta é a grafia correte e nem me interessa), pois todos são fundamentalistas, o que não gosto. Mas gostaria que a classe religiosa, uma vez, se colocasse no lugar de pessoas como eu, que sofreram abuso, humilhação, e tantas coisas, e se questionassem se seu discurso realmente tem validade. Citar apenas partes da Bíblia que são convenientes não têm validade nenhuma para o discurso. Só entendemos uma dor quando a sentimos.

Não espero compreensão das pessoas, não tenho prazer nenhum de ficar me gay boys kissingexplicando por ai, afinal poucos sabem que sou gay, e minha vida é de minha inteira propriedade e responsabilidade. Mas o incomodo é ser culpado pelo crime que outros cometeram. Sempre reprimi minha homossexualidade e até condenei por tanto tempo, mas chega um momento em que simplesmente não dá para empurrar o problema com a barriga. Fazer de conta que o problema não está lá não fará ele desaparecer. Depois de sentir com força o que desde criança venho reprimindo vi meus conceitos caírem por terra. Por mais que tente não pensar nesta encruzilhada que vivo é impossível simplesmente fazer de conta que não cheguei aqui. Saí da igreja, comecei a namorar um rapaz maravilhoso, mas não tenho me sentido confortável com minha condição. Queria que tudo fosse diferente, mas quem disse que tenho querer? A verdade é absoluta e não creio que seja alvo de discussão, fatos não são questão de opinião. A verdade é que sou gay, fato é que não escolhi. Odeio ser julgado por isto. Mas já que não está tudo diferente o que devo fazer? Repressão? Não é o caminho, acredite. Até lá viverei o que a vida me der, aprenderei as lições e depois… Se houver depois eu penso no que farei.