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Exalando a Alma

Reflexões de uma alma solitária

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Insignificância

2Quando eu comecei o Exalando a alma eu pensava em falar das coisas negativas da minha vida, e é exatamente o que tenho feito. Falo aqui de coisas que não conto às pessoas no vis-a-vis. Vivo uma vida dupla, essa que é a verdade. Para as pessoas sou um cara normal, que trabalha, sai, gosta de ler, e tudo o mais… Mas no fundo não é isso que sou. Pouquíssimas pessoas me conhecem a fundo. Nos últimos meses ignorei o blog propositalmente. Queria achar que conseguiria conviver com meus problemas sem fazer alarde deles pra ninguém (não que eu saia gritando feito louco por aí, mas há algumas pessoas pra quem eu posso me abrir). Eu, francamente, não gosto de procurar as pessoas pra desabafar. Elas não têm nada a ver com meus problemas. E pior ainda, são aquelas que oferecem amizade e diminuem o que sinto. Tem uma pessoa na minha família que é pentecostal, desses que dizem que ouvem Deus falar pra eles repassarem o recado para nós, pobres mortais. Se intitulam “profetas”. Enfim, essa pessoa se aproximou de mim, falou que Deus tinha mostrado pra ela que eu era gay e que Ele tinha uma saída pra mim, mas que eu passaria por coisas ruins antes de me ver livre da dor. Essa pessoa ofereceu a amizade dela. Eu, pobre coitado, acreditei nisso, até porque na época ninguém mesmo sabia que eu era gay, apenas eu. Enfim, o tempo foi passando e fiquei muito próximo dessa pessoa (uma mulher, caso esteja curioso/curiosa). Mas, algumas vezes em que eu a procurei ela me tratou como um estorvo. Oras, eu não tinha buscado ajuda dela, ela me ofereceu e depois não deu conta da situação. Eu me senti tão diminuído quando aconteceu isso da última vez que resolvi me afastar. A falsa amizade mais me causou danos que algo de bom. Por vários motivos eu abandonei a religião, mas o principal é a estupidez dos pentecostais. Poucos nesse meio se salvam. Tenho verdadeiro horror a essa cultura. Pior é que grande parte dos meus parentes fazem parte dessas igrejas horrorosas que têm por aí, onde gente como eu é condenada ao inferno só por existir. Pessoas assim tem feito eu me sentir amedrontado. Questiono tanta coisa na minha vida que nem sei mais o que fazer com ela. Tenho medo de tudo. Tô esmagado. Me sinto apenas insignificante…

Carta para Deus

Querido Deus,

orac3a7c3a3o-na-montanhaNão sei se o Senhor tem internet no Céu, mas senti hoje a necessidade de registrar essa oração. Sei que não podemos esconder nada do Senhor, então serei honesto aqui. Por um tempo duvidei que você existisse. Tantas coisas negativas aconteceram e ainda acontecem comigo que achei difícil pensar que alguém tão bom pudesse estar em algum lugar nessa imensidão desconhecida. Depois passei a acreditar que o Senhor existia, mas que simplesmente não se importava comigo. Às vezes acho isso mesmo. Hoje quero acreditar que o Senhor existe e se importa comigo e que tem um propósito pra minha vida, seja ele qual for. Minha história não começou esses dias. Lembra Deus naquele dia que minha mãe saiu para trabalhar e meu pai não estava em casa e fiquei aos cuidados de uma mulher que me bateu? Deus, eu ainda nem tinha um ano de vida e já estava sofrendo violência? O que eu fiz? Não entendo por quê… Depois disso a vida foi passando. Meu pai começou a demonstrar desrespeito por mim. Ele gostava de tocar em minhas partes, e tirar brincadeiras sexistas quando eu ainda era criança. Tudo que eu pedia a ele, ele dizia que só ia me dar se eu deixasse ele tocar em mim. Isso não parece ser uma atitude de quem ama. O corpo é meu, ele não tinha o direito de me desrespeitar! Senhor, eu sei que o Senhor viu essas coisas, por que as permitiu? Isso me causou tanto sofrimento. Cheguei a fase da pré-adolescência. Queria ter amigos, mas meus pais não me deixavam tê-los. Senhor, minha mãe repetiu várias vezes que eu não precisava de amigos, que a família era a amizade que eu precisava, e cresci tão sozinho. Sabe Deus, eu odiei meus pais por isso. Quando cheguei a puberdade sofri tanta confusão ao descobrir que gostava de meninos. Lembra Senhor que eu me escondia na escola porque não conseguia conviver com outros meninos? Lembra que eu não fazia educação física pra não ter que ir tomar banho junto outros meninos pelados pra não me sentir envergonhado com o que poderia acontecer? O Senhor viu de quantos garotos eu me afastei por não saber como reagir, e só ter companhia das meninas e ser tachado e viadinho, mariquinha, frouxo e tudo o mais? Lembra Deus quando entrei no ensino médio todas as humilhações que passei e sentia vergonha de contar em casa e tive que suportar calado pra não ter que dar explicações pelo fato de meus pais não entenderem o que se passava comigo? Acho que o Senhor lembra quando cheguei na faculdade e conheci aquele rapaz (eu acho que o Senhor sabe o nome dele, não preciso citar), e apareceu aquela mulher dizendo que teve uma “revelação” de que eu ia me envolver com ele, e depois disso o Senhor me libertaria. Ela disse tantas coisas que me deixaram desejando aquele rapaz e quando não aconteceu ela disse que o Senhor tinha me dado livramento. Deus, eu não entendi, se o Senhor não ia deixar acontecer, por que disse à ela que aconteceria e me fez passar tanta angústia? Ela mentiu para mim não foi? Acho que sim… Acho que o Senhor também viu quando conheci aquele outro rapaz na igreja e me apeguei muito a ele. Lá veio essa mulher de novo dizer que algo aconteceria e que ela orou pedindo que nos afastássemos. Poxa Senhor, era meu único amigo. O Senhor sabe que por ter sido criado isolado eu não sei muito lidar com as pessoas… Estou aprendendo ainda. Lembra Senhor que dia 01 de julho de 2010 eu chamei meu único amigo e, acreditando que estava fazendo o certo, disse que não queria mais a amizade dele? Ah! Como eu estou arrependido. Depois disso o Senhor deve ter visto minha decadência, saí da igreja, deixei de acreditar em muita coisa. O Senhor viu que em algum momento de maio de 2013 eu conheci um rapaz pela internet e nos envolvemos? Acho que sim… Ainda estamos aqui. Mas eu sinto tanto medo desse relacionamento. É muito ruim viver escondido. Ah! Senhor… Eu olho minha história resumida e me vem tanta coisa na cabeça, tantos adendos que poderia colocar aqui, mas não sei se teria espaço nesse relato. Deus, eu estou com medo da vida. Eu queria que tudo estivesse diferente, mas não está. O Senhor viu o que os psicólogos falaram. Síndrome do pânico, bipolaridade, melancolia, estresse. Senhor, era esse mesmo o caminho que o Senhor queria pra mim eu fui eu que me perdi e tomei o rumo errado? Está tudo tão difícil! Tenho medo de morrer e perder meu lugar no céu. Tenho medo de nunca me encontrar nessa vida. Estou aterrorizado. Eu quero acreditar no Senhor, quero ter esperança de que tudo vai mudar, mas não sei se consigo dar mais um passo. Senhor, peço Sua ajuda, pois não existe um ser humano que possa fazer algo por mim. Eles não querem nem tentar entender meu lado. Não quero ser rotulado. Quero ser salvo. Não sei se minhas feridas são tão profundas que não haja salvação para mim, mas se o Senhor pode fazer o impossível então meu caso não é nada para o Senhor. Estou doente no corpo e na alma. Estou com medo. Segure minha mão e me ajude a passar pela vida.

Deste Seu filho que não desistiu de acreditar…

Mutilado

[Silêncio]

cemitério-estatua-gótica-anjoBusquei uma citação para abrir esta postagem, mas não encontrei. Queria algo que me refletisse, mas não encontrei. Eu vou direto ao ponto. Me sinto ambivalente em relação a minha pessoa. Quero meu bem, afinal não posso me desassociar de mim, mas ao mesmo tempo, odeio quem sou. Quero muito mudar. Não por cobranças alheias, mas estou cansado de me arrepender do que faço, do que digo, do que sinto. Canso de não acertar. Errar é inevitável, mas a minha natureza me agride; não estou bem, minha saúde não está bem, meu emocional não está bem. Canso de ferir as pessoas que amo, de não saber demonstrar o que é mais importante a quem mais importa. Cada erro é com se arrancasse um pedaço de mim. Não posso cobrar amor das pessoas já que não sei amar. Mas eu fui ensinado na não saber amar, sou apenas uma produto do meio. Culpando outros? Mas é claro! É burrice demais esfaquear alguém e não esperar que ele sangre. Eu sangrei, e a cicatriz lateja. A ferida curou, mas a lição que ela me deixou acabou por me tornar indiferente às pessoas que estão próximas de mim. Ah! Como eu morro de inveja daqueles que têm amigos, muitos deles. Daqueles que têm para onde ir num fim de semana, que têm para quem ligar a qualquer hora, que podem brigar com um deles e ter outro a quem recorrer. Que não ficam mortos de vergonha de pedir ajuda quando precisam, e que recebem ajuda sem se sentir devedores. Eu não sei o que é isso. Tenho raiva da vida, ela é amarga. Só isso. Eu francamente não vejo proposito na existência. Pra quê existir? Vamos todos morrer, e ainda temos que sofrer entre o início e o fim. Qual a graça disso? Queria ter morrido na hora de nascer… Não levamos nada daqui mesmo… Desde que comecei este blog há dois anos lamento, lamento, lamento e nada mudou dentro de mim. Situações vieram e se foram, mas as tristezas só foram acrescidas. Hoje não me sinto um ser humano completo, apenas uma personagem em uma peça sem público, um monólogo mudo. Não sei que alguém vai ler isso aqui, já não importa. Não queria ser nada do que sou, mas não tenho escolha, o pior fardo que carrego na vida é ter que me suportar. Entendo aquelas pessoas que me abandonaram, mesmo quando não dei motivos (ou será que dei?). Seja como for, hoje minha esperança está perdida. Talvez eu a reencontre….

Teleologia

rhV9YO que é existir? Às vezes temos conceitos de certa forma claros em nossa mente sobre as coisas, mas quando nos fazemos a pergunta os conceitos somem, e com eles as nossas certezas. Sou um questionador nato, o que chega a irritar algumas pessoas. É difícil achar pessoas que queiram buscar respostas. A maioria apenas quer seguir em frente conformada com o que tem, sempre no mesmo patamar. Eu quero entender o que vim fazer aqui, e confesso que está muito difícil encontrar uma resposta. Há anos me pergunto por que existir? Por que fazer parte de um mundo cheio de dor e sofrimento onde poucos conseguem se encontrar, e aqueles que estão no topo chegam lá acompanhados do medo de cair? A vida não tem sido um mar de rosas, e que seja assim para eu não cair no conformismo. Mas como é difícil percorrer a senda da vida pelo caminho escuro. Não sou um otimista, aliás, por mais que os pessimistas me irritem, os otimistas o fazem com igual maestria. Você já deve ter percebido o quão perdido estou aqui. Sou cristão, mas francamente, a religião não tem sido satisfatória em me dar respostas. Ao longo do Exalando a Alma tenho compartilhado meus dramas e anseios, meus altos e baixos, minhas poucas alegrias e abundantes frustrações, e é latente a falta de nexo que a minha existência tem sido. A brutalidade da adolescência deixou suas marcas, deveria ter sido um período de aprendizado, era parte do cronograma da vida, mas foi apenas um período de medo. Hoje, adulto tento entender o porquê de tudo, tento encontrar uma razão de ter passado o que passei e o que posso tirar de lição disso. Sei que sou mais forte do que penso, afinal ainda estou aqui, trabalhando, estudando, tentando dar um rumo a minha vida. Mas como seria mais fácil se tivesse uma resposta clara.

espinho_01Falando na religião, acho que ela foi a maior responsável por fazer eu me perder. Freud explicava a religião como uma fuga do homem das suas responsabilidades, criando um deus para suprir a falta de um pai que seja responsável por ele. Frequentei a Assembleia de Deus, uma igreja histórica com uma história um pouquinho mentirosa criada por marqueteiros hábeis, mas que tem sim muita coisa positiva, não serei hipócrita de negar; a igreja que eu frequentava era liderada por um homem velho e rabugento, que mais botava medo nas pessoas do que demonstrava amor. Fui ensinado a obedecer sem questionar, e que o pastor era o “ungido de Deus e ninguém pode tocar nele” seja lá o que isso quer dizer, mas na prática era que tal indivíduo jamais poderia ser questionado. Você crescer assim, com alguém sem muita noção do que está fazendo é a receita para o estrago. Passei mais tempo com medo de ser castigado por Deus e ir para o inferno do que amando. Ora, o amor é o centro do cristianismo. A Bíblia diz que Deus é amor. Se você se diz cristão e não tem amor no coração, você está na religião errada. Bom, somado a isso e ao medo que tinha, passei grande parte da vida vegetando. Vivia na tríade casa-escola-igreja e mais nada. Nunca pude ter amizades, não podia viajar, sair, me divertir. Ir a um show era motivo de conspurcação pública por aquele pastor. Até que cheguei a decisão de mudar de igreja. Comecei a frequentar outra igreja, bem distante, literalmente em outra cidade. Viajava cerca de 40 minutos todo domingo para ir a esta igreja nova, mas só vi mais do mesmo. Até que cheguei a decisão de parar de frequentar a igreja. Hoje faço parte do movimento dos “desigrejados”. Pessoas que se intitulam cristãs, mas vivem sua religiosidade fora dos templos. É libertador na verdade, você poder viver livre de pressões, poder questionar e não aceitar que lhe manipulem em nome de Deus.

depressed-1-600x388Outro grande conflito que enfrente é em relação a minha homossexualidade. Algo que bate de frente com os dogmas da igreja. Não quero ser gay, não aceito isso. A pressão social ainda é forte, o Brasil místico/religioso ainda causa muito estrago na vida de um homossexual. Odeio lideranças políticas como Jean Wyllys; gostava de pessoas sensatas como Clodovil. Não há diálogo, só se vê classes se digladiando, cada um querendo ter mais razão que o outro e nenhum acordo se faz. Neste meio termo, há muitos como eu que não conseguem se assumir, vivem uma vida de aparências e sofrimentos, marcadas com lágrimas e até mesmo sangue, já que muitos carregam o estigma da violência em seus corpos. Para piorar a religião mais uma vez se intromete nas decisões pessoais. Lideranças como Silas Malafaia e Marco Feliciano têm causado um terrorismo terrível nesta nação. E infelizmente em briga de bandidos grandes a gente não se mete. A corda sempre arrebenta no lado mais fraco. Conciliar tudo isso é quase impossível. Aqui eu volto ao início da reflexão. Qual o sentido disto tudo. Qual a finalidade da vida? Qual a finalidade de vivenciar isso? Crescer como ser humano? Poderia crescer de outra forma. Ajudar àquelas pessoas que passam o mesmo que eu? Já é triste uma pessoa passando por isso, imagina um grupo! A vida é curta demais para se perder tempo, e longa demais para ser suportada em silêncio. Não sei quando tudo isto chegará ao seu ocaso, só me resta seguir em frente. Seja o que Deus quiser, já que eu não sei mais o que querer.

Nosce te ipsum

Autoconhecimento é a perda da inocência. -Alissa White-Gluz

autoconhecimentoFico observando o quanto estamos despreparados para receber uma crítica, e mais ainda, para sermos auto críticos. Vemos pelas redes sociais frases do tipo “alguém que fala mal de você te admira em segredo” e coisas do tipo querendo nos colocar acima do mal (algo que acredito que nenhum de nós está). Acho até mesmo burrice de uma pessoa achar que todas as pessoas que falam mal dela falam sem fundamento ou por inveja, chega a ser ridícula tamanha prepotência. Ora, nós não fazemos só o bem, e um dos males que fazemos também é falar dos outros. Quem nunca o fez atire a primeira pedra ou morda sua língua. Mas a questão aqui é outra. Será que me conheço tão bem a ponto de fazer uma crítica fiel e sensata àquilo que sou? Será que me conheço bem de fato? Esperamos muito das pessoas, mas será que fazemos por onde alcançar o devido reconhecimento que almejamos? Acho que poucos conseguem. E se o que você faz é em troca de reconhecimento, muito do mérito de suas obras é vão. Acredito que as críticas que muitas vezes tomamos por infundadas têm mais fundamento que imaginamos. Mas com é difícil sermos criticados. Pior se vem de alguém que deveria nos apoiar, pois amor de família e amigos deveria ser incondicional. Mas amor incondicional não é aceitar nossas falhas e só. Há uma frase bíblica que diz que fiel é a ferida feita pelo que ama. E se essa ferida vem em forma de uma crítica, que seja.

autoconhecimento2Não temos mais tempo de parar. Estamos ocupados demais correndo atrás de um emprego que pague bem, de bens de consumo, de estar na moda, de ter amigos, de tudo, e por mais que pareça clichê, estamos vendo o tempo passar e quando acordarmos, SE acordarmos, talvez seja tarde demais… Apesar de críticas contrárias, acredito sim que estamos vivendo na pós-modernidade, uma época de crise e de incertezas criada basicamente quando o mundo resolveu se tornar uma sociedade de consumo e carimbada com a queda do muro de Berlim em 1989. Exaurimos tudo nesta vida, menos nossas desculpas. Você se conhece de fato? Você é capaz de reconhecer em voz alta todos os seus defeitos? E depois disso, é capaz de trabalhar para mudar? Todos nós mudamos, sempre. A vida dá voltas que nem imaginamos (e este é um dos motivos para se viver despreocupados, o que tem seu lado bom e seu lado ruim) e, de fato, não somos mas as mesmas pessoas de ontem. A partir do momento que eu me conheço de verdade vou ser capaz de rebater as críticas que me fazem, não com palavras, mas com atitudes. Alguns se calam diante de uma crítica, o que é melhor, pois o silêncio tem um valor inaudito, mas o silêncio também precisa passar uma mensagem, pois de coisas vazias o mundo está cheio. Talvez você, como o filósofo, descubra que só sabe que nada sabe, mas nunca é tarde para começar uma jornada de autoconhecimento. Apenas comece…

Necessidades…

amor-lc3adquidoAcabei de ler alguns estudos aqui na internet que falam do mal que a solidão pode trazer à vida das pessoas (Veja aqui e aqui). Há alguns meses li um livro chamado Amor Líquido, do Zygmunt Bauman (sou fascinado por este autor), cujo foco é a fragilidade dos relacionamentos nos dias atuais. Todos nós temos necessidades de relacionamentos, de estar com outras pessoas. Nós somos seres sociais e a ciência comprova o quanto a solidão pode ser nociva para o homem. Neste livro, Bauman fala sobre como é difícil manter relacionamentos, sobre os custos de se ter alguém na sua vida. É ótimo você ter um parceiro para os bons momentos, mas aturar os defeitos dos outros? É melhor não. O problema é que quando é nossa vez de errar, queremos alguém que nos suporte e nos entenda. Não queremos ser julgados, mesmo julgando a todo instante. Não queremos ser desprezados, mesmo não ligando para os tormentos dos outros. Não queremos ser incomodados mesmo necessitando muitas vezes da intervenção dos outros em nossas vidas. Meu Deus! A sociedade ocidental preza pelo fútil, pelo hedônico. Qual o propósito de se viver assim? O que aprenderemos deste jeito? Para onde correremos quando precisarmos de alguém? Eu não faço a menor ideia, só sei que cada dia que passa o mundo torna a existência mais sem graça. Muitos me criticam por pensar assim, mas quantos têm vivido a sombra da tristeza, do medo e da solidão e simplesmente não encontramos uma saída para estas pessoas. Eu mesmo tenho vivido assim. Não tenho uma visão positiva da existência. Não vejo motivo ou razão para existir. Não nos respeitamos, não respeitamos nosso meio ambiente, nosso planeta está morrendo, nossos recursos se exaurindo e a grande maioria só quer se sobressair em uma sociedade de consumo fútil, ignorante, líquida e por muitas vezes, desprezível. Já não sabemos, de fato, quem é nosso próximo. É mais fácil fechar os olhos, só que fazer de conta que não vemos os problemas não irá resolvê-los.

incógnitaÉ muito difícil resolver nossas necessidades primordiais quando estas dizem respeito às pessoas. Quero entender por que queremos tanto sem ter muito para dar em troca. Sei que eu mesmo sou falho em muitos aspectos que critico, é claro que tenho teto de vidro então, preciso direcionar minhas críticas primeiramente a mim. Mas até para estender a mão a alguém fica difícil, pois confiança é algo complicado. Muitos já foram tão feridos, tão humilhados por confiar que preferem se trancar em seu mundo e fazer de conta que são capazes de se virar sozinhos. Mas noite após noite seus medos e angústias as atormentam, e seus travesseiros são meros depositários de lágrimas. Ainda tem a preocupação com o futuro. Quanta incerteza para uma vida! Muitas vezes me pego pensando em meu futuro, na vida que gostaria de ter, no que posso fazer para mudar e nas dificuldades que posso enfrentar, e geralmente termino meus pensamentos me questionando se pelo menos vou terminar este dia ou se meu último suspiro está mais próximo do que imagino. Sair de casa para mim é uma luta, tenho medo. Encarar a vida já é motivo de medo suficiente. Mas o fato é que temos que encará-la. Não posso permitir que os pensamentos me derrubem. Faço um exercício mental que, apesar de parecer simples é muito difícil. Tento por na minha cabeça a ideia de que viver um dia de cada vez é suficiente. Tento entender que a vida dá voltas e que eu não sei como vou estar no futuro. Tento perceber que não há nada de mal acontecendo comigo no momento e que não tenho motivos para me preocupar. Olho a comida na despensa, as contas pagas, olho para os céus e tento agradecer a Deus por poder andar, respirar, ter uma casa para morar. Tento fazer isso como forma de sobreviver ao caos que é a vida. Não é algo que faço a muito tempo, na verdade comecei a mudar de atitude há alguns dias. Espero que tenha resultado, pois só me resta esperar que Deus faça um milagre, ou tudo será em vão…

Cacos

espelho quebradoA vida às vezes parece ter apenas rasteiras pra nos oferecer. Muitas vidas parecem ser apenas soma de medos, tristezas e desesperança. Não sei se isso é só uma fase, mas deve, com certeza, ser um grande aprendizado, pois não creio que seja possível ou aceitável passar por tanta dor sem um propósito. Autoconhecimento é a perda da inocência. Uma vez perdida a inocência, não há desculpa fácil de se dar ou ouvir. Oxalá pudéssemos ser capazes de fazer escolhas sensatas 100% das vezes que nos fosse demandado, mas infelizmente isto não é possível, e as más escolhas são regadas com lágrimas e seus frutos são amargos. Choro por dentro. Tenho medo. Sinto o terror. Minha única válvula de escape é dormir e entrar no estado de subconsciência. Esquecer um momento que a vida lá fora é real, que os medos vão me consumir mais um dia. Ah! E a solidão? Essa companheira indesejável e inexorável, nada indulgente. Como driblar? Não sei. A solidão tem se tornado um lugar comum para a humanidade. O grande gênio da atualidade, Zygmunt Bauman já dizia que hoje indivíduos solitários se encontram na ágora com outros indivíduos solitários e voltam para casa com sua solidão reforçada. Perdemos a capacidade de amar, e com isso muitos outros males foram suscitados.

3021962_gQ6beSou um homem solitário. Entendo o que é solidão, esse demônio que rasga nossa alma, que nos angustia, e nos mata lentamente. Sou um homem de temores. Sei o que é olhar pra frente e ver apenas um borrão, uma mancha. Sou um homem de tristezas, de sentir aquela mão apertando o peito, espremendo lágrimas, me fazendo sangrar. Sou um homem de desesperanças. Me apego ao fato de que, de um jeito ou de outro, tudo vai acabar. Me lamento de saber que entre o começo e o fim pouco foi proveitoso. O que é a vida senão um momento? O que fazer deste momento que é a vida? Alguns encontram seu caminho, outros morrem tentando e muitos, como eu, desistiram de tentar. Sei que com 32 anos sou uma pessoa nova, sei que estou vivo e posso tentar. Mas na prática é muito difícil. A vida é selvagem. A vida se alimenta da vida, e apenas morte nos espera no fim da jornada. Quisera poder abreviar esta passagem sem dor, mas é mister sofrer. Tenho sorte de ter nascido num país ocidental em um Estado de direito. Não quero ofender a Deus, mas seu eu soubesse de tudo que sei, e tivesse escolha, escolheria não nascer.  Sim meus amigos, este é um dos mais amargos lamentos que posto aqui no Exalando a Alma. Se você tem algo prático capaz de me ajudar, não hesite. Se não tem, lembre de mim em suas orações. E que Deus tenha piedade desta pobre alma…

Farsante

magoasSou cristão apesar de não frequentar igreja. Fui criado em uma igreja evangélica e frequentei esta igreja até os meus 28 anos, logo, conheço por dentro este movimento e suas doutrinas que, apesar de variações, têm uma mesma base, que são os ensinos de Cristo. Ser um bom cristão é muito difícil pois, ao passo que você não deve julgar os outros e tem o dever moral de amar e ajudar seu próximo, você também não pode ser conivente com os erros deles para não acabar sendo cúmplice do pecado do seu próximo. Um dos pecados que a Bíblia diz que não tem perdão (são dois), é exatamente a falta de perdão (Evangelho de Mateus cap. 6 versos 14 e 15). Eu, sendo cristão, não sou perfeito, erro e erro muito. Mas eu tento reconhecer meus erros e tento pedir perdão àquelas pessoas que magoo. Mas o que eu observo é que no meio evangélico o perdão é um bem de consumo luxuosíssimo e extremamente caro. Eu faço de tudo para não guardar rancor (não sou hipócrita, sei que tenho muitos rancores, principalmente contra o sistema em que fui criado), mas tento perdoar as pessoas. Pode não parecer, mas tenho um coração mole; quando alguém me pede perdão eu não hesito, perdoo mesmo. Só que nem todos são como eu. Eu tinha um amigo, uma boa pessoa, a quem eu causei algumas feridas de forma involuntária. Ele é evangélico. Me afastei dele em 2010, esperei a poeira baixar e recentemente o procurei apenas para pedir perdão. Me arrependi de tê-lo feito. Às vezes é melhor deixar o estrago feito e seguir a vida. Sei que não tenho moral para criticá-lo, eu, na minha inocência, lhe causei alguns males, mas fiquei imaginando de que adianta professar uma fé cujas bases são negligenciadas? Eu fui atrás do perdão porque quero ele, preciso de um palimpsesto na minha consciência. Infelizmente na minha vivência com os evangélicos sei que este meu ex-amigo faz parte da regra e não da exceção. Mas não posso julgá-lo. Não sei se o meu veredicto foi merecido, mas foi dolorido. Há meandros da história que são desconhecidos por nós dois. Fico imaginando como uma amizade, a única que tive na vida, começou tão bem e acabou tão mal? Creio que a minha solidão criou necessidades em mim e eu cobrei do outro quando eu, e apenas eu, deveria ser o responsável por suprí-las. Eu me sinto um cristão farsante, pois quero do outro o que muitas vezes eu não tenho para passar em frente. Mas há um crime em querer perdão, amor e compreensão? Creio que todos buscamos isso alguma vez em alguém, não sou o único. Seja como for, a ferida foi aberta em ambos, e o único remédio nos é negado.

Fracassado

É como se os nossos medos tivessem ganhado a capacidade de se autoperpetuar e se autofortalecer; como se tivesse adquirido um ímpeto próprio – e pudessem continuar crescendo unicamente com base nos seus próprios recursos. –Zygmunt Bauman, Modernidade Líquida

Entender o que passa conosco é uma tarefa complicada. Nós erramos, acertamos, praiaerramos de novo, tentamos acertar, erramos, tentamos consertar as coisas, alguns desistem outros esperam e outros continuam tentando (e errando, diga-se de passagem). Acho que sou uma mixórdia disso tudo. Hoje parei para analisar alguns acontecimentos da minha vida em que eu veementemente culpei os outros e, de verdade, senti vergonha de mim mesmo ao descobrir que fui o único culpado, algumas destas coisas até relatadas aqui no blog. Nossa, e como sempre, tenho um espírito irrequieto que tenta consertar aquilo que foi escangalhado, mas como é difícil lidar com as pessoas. Perdão custa caro demais, algumas vezes o preço é simplesmente impagável. Isso me entristece pois tenho consciência que todos erramos e todos queremos uma segunda chance, mas são pouco que estão dispostos a nos dar essa segunda chance. Muitas vezes, situações nos deixam com medo de tentar, e o medo só cresce, o tempo passa e quando se olha para trás percebe-se que poderíamos ter feito algo, mas simplesmente deixamos passar e ai vem o sentimento de fracasso, os questionamentos e tudo o mais.

Sei que não sou perfeito, sou um cara que teme muita coisa, me falta poesia para imagesver a vida com outros olhos e sobram julgamentos por não ser o paradigma aceitável de um homem do século XXI. Tenho medo constante e crescente de cometer os mesmos erros do passado, sei que mudei muito, mas tenho uma natureza e esta não me deixa em paz, incomoda constantemente. Maturidade é uma árvore que demora a crescer e requer cuidados especiais, muitas vezes é regada com lágrimas e adubada com muita vergonha, mas espero poder provar seus frutos e espero que sejam doces. Por estes dias me surpreendi quando alguém que sei que magoei muito me procurou, mas a frieza com que fui tratado me fez questionar se valeu a pena ter sido procurado (confesso que fui atrás algumas vezes). Sim, senti um fracassozinho pinicando meu ego por não ser capaz de lidar com meus sentimentos e com os sentimentos alheios… Odeio criar expectativas, mas não consigo evitar. A esta altura da vida já deveria ter aprendido a lidar melhor com as pessoas. Sinto vergonha de quem fui um dia. Acho que ainda sinto vergonha de quem sou. A vergonha é um sinal que carregamos para sempre. Alguns se habituam, outros a sentem latejar.

Talvez seja simplesmente inútil parar um momento para escrever sobre estes tristezatemores, escrever sobre meus fracassos, já que muitos consideram isto uma perda de tempo, e deveríamos simplesmente celebrar a beleza da vida blá, blá, blá, mas eu sei que a vida é cheia de vicissitudes, e nem só de beleza se vive, já que o que mais nos ensina a viver é a dor. A dor é a melhor professora que teremos, a melhor amiga, para alguns (reconheço que não é meu caso) ela é a única. Mas aqueles que sentem a dor sem medo são os seres humanos mais nobres que encontraremos. Talvez eu celebre minhas dores um dia, sentindo orgulho de cada ferida de batalha, assim como um soldado que, apesar das marcas, sabe que seu sofrimento foi para um bem maior. Quem sabe este dia venha a raiar amanhã mesmo. Até lá, só posso continuar tentando aprender a viver, já que não me dou a opção de sucumbir. Que venham os fracassos, eles não são os únicos galardões!

 

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