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Exalando a Alma

Reflexões de uma alma solitária

mês

julho 2013

Tanatose inversa

Nesta guerra constante que é a vida às vezes precisamos de estratégias para 293014_547908721927222_487310199_nsobreviver. Não entendo de estratégias de guerra, mas já ouvi alguns relatos interessantes de pessoas que sobreviveram por pura astúcia e uma boa dose de atuação. Na natureza é normal encontrar animais que sobrevivem graças as suas habilidades de fingimento, e uma delas é a tanatose. Tanatose nada mais é que se fingir de morto para escapar de um inimigo. O perigo é que podemos fingir bem demais e acabar imóveis para o resto da vida. Mas cada batalha trás seus riscos, e para sobreviver qualquer fim justifica o meio. Na guerra e matar ou morrer. Mas há aqueles que estão mortos por dentro e se fingem de vivos (o que poderíamos chamar de zumbis, mas não acho o termo muito apropriado). Admiro muito Zygmunt Bauman e, em uma de suas entrevistas ele critica o modo de vida ocidental, onde prezamos mais pelo individualismo que pelo comunitário. Assim, tomamos nossa dose de infelicidade diária satisfeitos por termos tudo, menos certeza de onde vamos parar, e cada vez mais afundamos em crises. E o amor onde foi parar?

A vida tem sido um pouco desconcertante para mim. Já sei que consigo me dar bem com as pessoas a distância, não sei conviver em grupo, não sou social, tendo aos padrões dadaístas (e.g. forte caráter pessimista e irônico, principalmente com relação aos acontecimentos políticos do mundo) e, obviamente, este é um caminho solitário a ser seguido. O mundo ocidental se idiotizou, esta que é a verdade. Queremos viver de otimismo e esquecemos que todos caem, todos falham, e no fim, todos morrem (redundante não? Se você pensa assim, você deve ser um dos que se esquecem deste fato e acha besteira pensar nele, como se a morte fosse evitável). Quisera eu ser daquelas pessoas que sabem dar a volta por cima e são paradigmas de comercial de dentifrícios… Mas não sou. O mundo se esquece que a balança precisa de dois pesos para se equilibrar. Normalmente sou dos que se sentem mortos e vivem com uma capa de sorriso, não para ser falso, mas para evitar ouvir críticas de pseudo-sábios populares que sequer se importam se estou bem ou mal de verdade. Tenho um travesseiro por confessionário, e francamente estou satisfeito com ele. Talvez amanhã meu humor melhore, talvez piore, mas por hora, estou deitado reduzindo meus batimentos cardíacos esperando a hora certa de fugir…

Simbiose

Quando estava no auge da minha vida religiosa lembro-me de ter conversas infindáveis com algumas pessoas que sentiam dificuldades em vivenciar uma vida religiosa saudável. Percebi, depois que me afastei da religião, que muitas coisas ditas não deveriam jamais ter sido pronunciadas; algumas fizeram sentido e até alcançaram  seu propósito. Mas é impossível exumar cada palavra dita e analisar as que tiveram efeito positivo e efeito negativo sobre os ouvintes, afinal, cada um deve ter a capacidade analítica para filtrar aquilo que lhe faz bem ou não. Palavras são ditas de todas as formas a todo instante, e nossa única responsabilidade é deixar que as boas façam efeito. Pelo menos sei que não errei de todo, e alguma boa semente deu fruto. Mais uma vez a vida me surpreendeu. Apesar de toda ingratidão que muitas vezes temos de suportar, nem todas as pessoas se recolhem e, às vezes, quando mais precisamos a vida nos provê de pequenas surpresas e pequenas epifanias que mudam completamente nossa forma de enxergar suas vicissitudes. O ano de 2013 me trouxe algumas gratas surpresas, algumas bem ingratas e algumas neutralidades de certa forma irrelevantes.

Por estes dias entendi que, de fato, devemos tomar cuidado com nossas atitudes e nossas palavras. A frase “tudo vai passar” tem feito muito, mas muito sentido mesmo nestes dias. No auge da minha “tagarelice santa” passei um período conversando muito com alguém (que espero que se estiver lendo este post saiba que, apesar de termos nos afastado, ainda o amo como um filho), e foi surpreendente ver que uma semente brotou. Já fiz notório o dualismo que é minha vida, com tantas lutas, dores e mágoas, e depois de tanta decepção com as pessoas chegou o momento que simplesmente desisti de esperar compreensão. Mas a grata surpresa é que fui compreendido e, pela primeira vez, acreditei que exista algum cristão de verdade no mundo. Quase me tornei um Ghandi (para quem não conhece sua história, Ghandi não se tornou cristão por ter sido expulso de uma igreja cristã devido sua cor). Ghandi acreditava nos ensinos de Cristo, mas via os cristão (e não lhe tiro a razão) como uma moléstia. Mas mesmo no deserto encontramos vida. E um simples gesto pode sim renovar as forças de um homem. E o que pode parecer algo tão pequeno para esta pessoa que me compreendeu, para mim foi a salvação…

Bom, e para meu salvador Júnior deixo esta música 🙂

Efeito Ideomotor

Se realmente existe um Deus vivo, sou o mais miserável dos homens. –Frederich Wilhelm Nietzsche

Lembro-me que em 1995 surgiu uma cantora chamada Joan Osborne (conhecida como artista “one hit wonder”) e ela lançou uma música chamada One of Us, que tocou incansavelmente nas rádios do mundo todo e causou furor de alguns religioso, inclusive do Papa João Paulo II. Mexer com a religião é enfiar a mão em um vespeiro. Nietzsche soltou a pérola preferida dos fundamentalistas ateus, a famosa “Deus está morto”, mas na hora de morrer ele deve ter pensado melhor. Quem conhece bem a obra de Frederich Nietzsche sabe que ela se baseia na tragédia. Qual a conexão entre ambos? O que uma música esquecida tem a ver com um filósofo que viveu sempre no casulo? Tem a ver com nosso título. Efeito Ideomotor e um movimento involuntário causado por força externa a do objeto, muito estudado no espiritismo, por exemplo. Mas o efeito ideomotor que observo está na nossa zona de conforto, pois sendo criados com ideias pré-fixadas não aceitamos confrontos, taxamos logo de falta de respeito e lançamos mão da famigerada filodoxia apoiada por um discurso ad hominem que em nada influi a não ser na vontade de expurgar ideias contrárias a socos e pontapés…

Já deixei claro aqui minha posição acerca da religião, de como fui criado nela e do que penso a respeito hoje. Uma coisa me foi importantíssima: a dúvida. Exatamente este filósofo e esta música me fizeram parar um pouco para pensar se o que acreditava era de fato o que acreditava. A letra da música diz: e se Deus for um do nós? Só um tolo como nós? Só um estranho no ônibus voltando pra casa? Em 1995 tinha apenas 13 anos, estava em formação de ideias e pensamentos, mas esta música me deixou com uma dúvida por anos. Me afastei um tempo da religião, depois voltei, me afastei de novo, mas esta mexida no meu alicerce foi importante para moldar o que penso e se é, de fato, no que acredito. Hoje acredito Deus não por ser obrigado, mas porque cheguei a conclusão de que realmente é isto que faz sentido para mim. Muitas ideias mudaram de 1995 para cá, já não sou nem a sombra do adolescente que fui, espero ter evoluído e me firmado em algo sólido. Não quero acabar como Frederich Nietzsche e morrer em dúvidas, sequer acabar apenas em um casulo. Mas de uma coisa eu não abro mão: E Se?…

Eis a música…

Solitas, solitatis

Por que sinto falta de você? Por que esta saudade? Eu não te vejo mas imagino suas expressões, sua voz teu cheiro. Sua amizade me faz sonhar com um carinho, um caminhar a luz da lua a beira mar. Saudade, este sentimento de vazio que me tira o sono, me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez… Só não quero perder sua amizade, esta amizade… Que me fortalece e me enobrece por ter você. –Machado de Assis

Quando estamos amando tudo que queremos é viver perto da pessoa amada. Você se encanta com ela, com tudo que ela faz, com cada gesto, com cada palavra, até com as brigas e desentendimentos, quando depois olhamos um para o outro e pensamos “por que brigamos?” e percebemos que o amor que sentimos é maior que qualquer desavença que possa existir entre nós… Seria maravilhoso se fluísse assim. Mas nem sempre acontece. Como já disse em outras postagens não sou saudosista, não sei sentir saudades. Mas como toda regra tem exceção, aprendi a sentir saudade de alguém. Desde que conheci meu namorado tenho sido torturado por este sentimento. Vivemos em um relacionamento complicado, pois nossas famílias não podem saber que somos homossexuais. Quisera eu ter a coragem que vejo tantas vezes relatada na blogosfera de pessoas que foram capazes de assumir sua orientação. Infelizmente temos muito a perder. Dói você amar uma pessoas e não poder compartilhar da presença dela.

Sempre imaginei o amor de forma romântica. Quebrei a cara. Já tive a oportunidade de mudar de opinião sobre o amor. Antes não acreditava nele (veja aqui); agora sou capaz de acreditar. Mas falta a liberdade para expressar este amor. Quisera eu viver em uma sociedade onde pudesse expressar livremente quem sou. Tenho medo da violência. Nem tanto da rejeição pois sou solitário, e esta é uma condição quase patológica e crônica. Amigos me faltam. Família não aceitaria, e ai está o maior problema pois, se perdemos a família, perdemos tudo. Muita coisa se passa em minha cabeça, esta semana já chorei ao telefone por causa da saudade. Dói, machuca, magoa, e às vezes nos perguntamos se vale realmente a pena viver sob esse fardo. Creio, quero crer que o amor vale a pena. Até o presente momento tem valido e muito, apesar de ter que ser expressado nas sombras. Mas que seja, conquanto haja o amor, tudo pode ser superado. Já a saudade…

Aprendendo a morrer

A vida é um caminho, a morte o destino. –Demon Hunter ‘I have seen where it grows’

Da Vinci certa vez se expressou que quando ele estava aprendendo a viver ele descobriu que na verdade estava aprendendo a morrer. Não flerto com a morte, mas a admiro. Há pouco assisti ao vídeo de um parto, achei uma coisa linda ver o mistério que envolve o geração de uma vida. Mas refleti que a vida é um paradoxo, pois no momento em que você começa a viver você também começa a morrer. Qual o proposito da vida? Simplesmente cessar. Não importa o quanto lutemos contra, um dia eu e você cessaremos de existir, e pode ser a qualquer momento, de qualquer jeito. Não é agradável pensar na morte, mas gosto de refletir no texto da Bíblia que diz:

Melhor é a boa fama do que o melhor unguento, e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém.
Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.
Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.
O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria. Eclesiastes 7:1-4

Este texto é do sábio Salomão, um homem que alguns consideram um mito, outros o consideram bem real. O senso comum diz que este é um livro de grande sabedoria. Salomão celebra a morte, não apenas dos homens, mas o fim de tudo. O fim pode ser um consolo para quem parte…

A questão que quero chegar é, será que nossa morte nos valerá boa fama? Leonardo Da Vinci entendeu. Epicúrio também. Na filosofia epicurista não há espaço para o medo. Qual sentido em temer o inevitável? Que proveito eu tenho em me preocupar com um destino do qual não posso fugir? Muitos tentam prolongar a vida, a juventude e tantas outras efemeridades que possamos imaginar, mas no final eu e você acabaremos não mais habitando entre os vivos. Quero deixar uma história. Há um poema de Mário Quintana que diz:

Quando abro cada manhã a janela do meu quarto É como se abisse o mesmo livro Numa página nova…

A vida não costuma dar segundas chances e, fato, para morrermos basta vivermos. Viva a vida com sabedoria. Viva a vida com esperança, consciente que um dia ela cessará, e que a posteridade poderá lembrar ou esquecer de você. Da Vinci foi lembrado como o maior gênio do renascimento. Talvez não alcancemos tamanha fama, mas quem sabe podemos alcançar uma recompensa no porvir.

Olhando pra frente pensando pra trás…

Eu sempre fico assustado em ver como a vida dá voltas; têm situações que mudam completamente nossa vida, mas outras parecem que mudam apenas. A mudança se percebe quando você vê a evolução no seu modo de ver, de pensar, de agir. Quando você vê situações acontecendo e você continua da mesma forma, o principal não aconteceu: você mudar. Pois é assim que me sinto ultimamente. Acredito que todos sentimos medo das mudanças, isto é normal. Mas é preciso cuidado para não ser paralisado pelo medo. Consegui observar mudanças em mim que, apesar de pequenas, foram significativas, pois são essas as mais fortes em nós. São os pequenos detalhes que nos moldam. São pequenas arestas que devemos aparar para moldar nosso caráter e nossa visão. Para algumas coisas perdi o medo, para outras ele diminuiu, mas quanto mais o tempo passa, mais percebo que vou ter que encarar a vida com medo mesmo. E por falar em tempo passando…

Sinto-me estes dias exatamente como no título. Penso muito em meu futuro mas com um saudosismo horroroso. Eu não sou saudosista, não sei sentir saudade de nada e isto está me assustando de verdade. Fato é que sim, reconheço que sinto saudades da minha infância, de quando a inocência deixava-me leve e despreocupado. Como já relatei situações aqui no Exalando a Alma que marcaram-me profundamente em relação ao meu pai, até minha forma de pensar nele tem mudado. Depois que conheci meu namorado, que descobri que posso ser amado, que existem coisas mais importantes que a beleza física e que dinheiro, não sei qual a ligação e qual sentido, mas tenho pensado em meu pai de forma mais indulgente. Claro que nada apaga as atitudes dele, mas ele já não está mais entre nós, não há mais nada que eu possa fazer em relação a ele; no entanto, não quero carregar mágoas dentro de mim, pois, a partir do momento da morte dele, a única pessoa a se prejudicar com os maus sentimentos seria eu. E me prejudiquei muito. Difícil não se prejudicar, mas não há fórmula para lidar com a situação. É a vida que vai ensinar.

Ultimamente tenho encontrado pouca inspiração para escrever. Meu tempo tem sido mais aproveitado para reflexões sobre minha vida de forma não muito clara e não muito dizível e/ou traduzível em palavras. Mas como este é meu canal de catarse não irei abandoná-lo. Quero acreditar que coisas boas ainda virão para mim. Quero acreditar que Deus ainda me dará uma chance de mudar tudo. De todas as pessoas que pensei que estariam longe de mim, Deus é a que menos imaginei. As pessoas dizem que Deus não se afasta de nós, nós é que nos afastamos dele. Acho um pensamento idiota. Não tenho uma filosofia epicurista, mas também não acredito que Deus nos ignore, só não acredito que Ele force a barra. Quero muito uma chance de acertar as coisas em minha vida, pois sei que, pelo menos para mim, ela não é o ideal. Espero um dia poder viver pelo menos um dos meus sonhos. Uma psicóloga amiga minha disse-me certa vez que tudo passa pelo querer. Hoje eu quero, pelo menos, ter força pra mudar mais ainda. Que a força venha. Que as mudanças sejam consequências.

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