O que é existir? Às vezes temos conceitos de certa forma claros em nossa mente sobre as coisas, mas quando nos fazemos a pergunta os conceitos somem, e com eles as nossas certezas. Sou um questionador nato, o que chega a irritar algumas pessoas. É difícil achar pessoas que queiram buscar respostas. A maioria apenas quer seguir em frente conformada com o que tem, sempre no mesmo patamar. Eu quero entender o que vim fazer aqui, e confesso que está muito difícil encontrar uma resposta. Há anos me pergunto por que existir? Por que fazer parte de um mundo cheio de dor e sofrimento onde poucos conseguem se encontrar, e aqueles que estão no topo chegam lá acompanhados do medo de cair? A vida não tem sido um mar de rosas, e que seja assim para eu não cair no conformismo. Mas como é difícil percorrer a senda da vida pelo caminho escuro. Não sou um otimista, aliás, por mais que os pessimistas me irritem, os otimistas o fazem com igual maestria. Você já deve ter percebido o quão perdido estou aqui. Sou cristão, mas francamente, a religião não tem sido satisfatória em me dar respostas. Ao longo do Exalando a Alma tenho compartilhado meus dramas e anseios, meus altos e baixos, minhas poucas alegrias e abundantes frustrações, e é latente a falta de nexo que a minha existência tem sido. A brutalidade da adolescência deixou suas marcas, deveria ter sido um período de aprendizado, era parte do cronograma da vida, mas foi apenas um período de medo. Hoje, adulto tento entender o porquê de tudo, tento encontrar uma razão de ter passado o que passei e o que posso tirar de lição disso. Sei que sou mais forte do que penso, afinal ainda estou aqui, trabalhando, estudando, tentando dar um rumo a minha vida. Mas como seria mais fácil se tivesse uma resposta clara.
Falando na religião, acho que ela foi a maior responsável por fazer eu me perder. Freud explicava a religião como uma fuga do homem das suas responsabilidades, criando um deus para suprir a falta de um pai que seja responsável por ele. Frequentei a Assembleia de Deus, uma igreja histórica com uma história um pouquinho mentirosa criada por marqueteiros hábeis, mas que tem sim muita coisa positiva, não serei hipócrita de negar; a igreja que eu frequentava era liderada por um homem velho e rabugento, que mais botava medo nas pessoas do que demonstrava amor. Fui ensinado a obedecer sem questionar, e que o pastor era o “ungido de Deus e ninguém pode tocar nele” seja lá o que isso quer dizer, mas na prática era que tal indivíduo jamais poderia ser questionado. Você crescer assim, com alguém sem muita noção do que está fazendo é a receita para o estrago. Passei mais tempo com medo de ser castigado por Deus e ir para o inferno do que amando. Ora, o amor é o centro do cristianismo. A Bíblia diz que Deus é amor. Se você se diz cristão e não tem amor no coração, você está na religião errada. Bom, somado a isso e ao medo que tinha, passei grande parte da vida vegetando. Vivia na tríade casa-escola-igreja e mais nada. Nunca pude ter amizades, não podia viajar, sair, me divertir. Ir a um show era motivo de conspurcação pública por aquele pastor. Até que cheguei a decisão de mudar de igreja. Comecei a frequentar outra igreja, bem distante, literalmente em outra cidade. Viajava cerca de 40 minutos todo domingo para ir a esta igreja nova, mas só vi mais do mesmo. Até que cheguei a decisão de parar de frequentar a igreja. Hoje faço parte do movimento dos “desigrejados”. Pessoas que se intitulam cristãs, mas vivem sua religiosidade fora dos templos. É libertador na verdade, você poder viver livre de pressões, poder questionar e não aceitar que lhe manipulem em nome de Deus.
Outro grande conflito que enfrente é em relação a minha homossexualidade. Algo que bate de frente com os dogmas da igreja. Não quero ser gay, não aceito isso. A pressão social ainda é forte, o Brasil místico/religioso ainda causa muito estrago na vida de um homossexual. Odeio lideranças políticas como Jean Wyllys; gostava de pessoas sensatas como Clodovil. Não há diálogo, só se vê classes se digladiando, cada um querendo ter mais razão que o outro e nenhum acordo se faz. Neste meio termo, há muitos como eu que não conseguem se assumir, vivem uma vida de aparências e sofrimentos, marcadas com lágrimas e até mesmo sangue, já que muitos carregam o estigma da violência em seus corpos. Para piorar a religião mais uma vez se intromete nas decisões pessoais. Lideranças como Silas Malafaia e Marco Feliciano têm causado um terrorismo terrível nesta nação. E infelizmente em briga de bandidos grandes a gente não se mete. A corda sempre arrebenta no lado mais fraco. Conciliar tudo isso é quase impossível. Aqui eu volto ao início da reflexão. Qual o sentido disto tudo. Qual a finalidade da vida? Qual a finalidade de vivenciar isso? Crescer como ser humano? Poderia crescer de outra forma. Ajudar àquelas pessoas que passam o mesmo que eu? Já é triste uma pessoa passando por isso, imagina um grupo! A vida é curta demais para se perder tempo, e longa demais para ser suportada em silêncio. Não sei quando tudo isto chegará ao seu ocaso, só me resta seguir em frente. Seja o que Deus quiser, já que eu não sei mais o que querer.