Busca

Exalando a Alma

Reflexões de uma alma solitária

Tag

ambivalência

Mutilado

[Silêncio]

cemitério-estatua-gótica-anjoBusquei uma citação para abrir esta postagem, mas não encontrei. Queria algo que me refletisse, mas não encontrei. Eu vou direto ao ponto. Me sinto ambivalente em relação a minha pessoa. Quero meu bem, afinal não posso me desassociar de mim, mas ao mesmo tempo, odeio quem sou. Quero muito mudar. Não por cobranças alheias, mas estou cansado de me arrepender do que faço, do que digo, do que sinto. Canso de não acertar. Errar é inevitável, mas a minha natureza me agride; não estou bem, minha saúde não está bem, meu emocional não está bem. Canso de ferir as pessoas que amo, de não saber demonstrar o que é mais importante a quem mais importa. Cada erro é com se arrancasse um pedaço de mim. Não posso cobrar amor das pessoas já que não sei amar. Mas eu fui ensinado na não saber amar, sou apenas uma produto do meio. Culpando outros? Mas é claro! É burrice demais esfaquear alguém e não esperar que ele sangre. Eu sangrei, e a cicatriz lateja. A ferida curou, mas a lição que ela me deixou acabou por me tornar indiferente às pessoas que estão próximas de mim. Ah! Como eu morro de inveja daqueles que têm amigos, muitos deles. Daqueles que têm para onde ir num fim de semana, que têm para quem ligar a qualquer hora, que podem brigar com um deles e ter outro a quem recorrer. Que não ficam mortos de vergonha de pedir ajuda quando precisam, e que recebem ajuda sem se sentir devedores. Eu não sei o que é isso. Tenho raiva da vida, ela é amarga. Só isso. Eu francamente não vejo proposito na existência. Pra quê existir? Vamos todos morrer, e ainda temos que sofrer entre o início e o fim. Qual a graça disso? Queria ter morrido na hora de nascer… Não levamos nada daqui mesmo… Desde que comecei este blog há dois anos lamento, lamento, lamento e nada mudou dentro de mim. Situações vieram e se foram, mas as tristezas só foram acrescidas. Hoje não me sinto um ser humano completo, apenas uma personagem em uma peça sem público, um monólogo mudo. Não sei que alguém vai ler isso aqui, já não importa. Não queria ser nada do que sou, mas não tenho escolha, o pior fardo que carrego na vida é ter que me suportar. Entendo aquelas pessoas que me abandonaram, mesmo quando não dei motivos (ou será que dei?). Seja como for, hoje minha esperança está perdida. Talvez eu a reencontre….

Teleologia

rhV9YO que é existir? Às vezes temos conceitos de certa forma claros em nossa mente sobre as coisas, mas quando nos fazemos a pergunta os conceitos somem, e com eles as nossas certezas. Sou um questionador nato, o que chega a irritar algumas pessoas. É difícil achar pessoas que queiram buscar respostas. A maioria apenas quer seguir em frente conformada com o que tem, sempre no mesmo patamar. Eu quero entender o que vim fazer aqui, e confesso que está muito difícil encontrar uma resposta. Há anos me pergunto por que existir? Por que fazer parte de um mundo cheio de dor e sofrimento onde poucos conseguem se encontrar, e aqueles que estão no topo chegam lá acompanhados do medo de cair? A vida não tem sido um mar de rosas, e que seja assim para eu não cair no conformismo. Mas como é difícil percorrer a senda da vida pelo caminho escuro. Não sou um otimista, aliás, por mais que os pessimistas me irritem, os otimistas o fazem com igual maestria. Você já deve ter percebido o quão perdido estou aqui. Sou cristão, mas francamente, a religião não tem sido satisfatória em me dar respostas. Ao longo do Exalando a Alma tenho compartilhado meus dramas e anseios, meus altos e baixos, minhas poucas alegrias e abundantes frustrações, e é latente a falta de nexo que a minha existência tem sido. A brutalidade da adolescência deixou suas marcas, deveria ter sido um período de aprendizado, era parte do cronograma da vida, mas foi apenas um período de medo. Hoje, adulto tento entender o porquê de tudo, tento encontrar uma razão de ter passado o que passei e o que posso tirar de lição disso. Sei que sou mais forte do que penso, afinal ainda estou aqui, trabalhando, estudando, tentando dar um rumo a minha vida. Mas como seria mais fácil se tivesse uma resposta clara.

espinho_01Falando na religião, acho que ela foi a maior responsável por fazer eu me perder. Freud explicava a religião como uma fuga do homem das suas responsabilidades, criando um deus para suprir a falta de um pai que seja responsável por ele. Frequentei a Assembleia de Deus, uma igreja histórica com uma história um pouquinho mentirosa criada por marqueteiros hábeis, mas que tem sim muita coisa positiva, não serei hipócrita de negar; a igreja que eu frequentava era liderada por um homem velho e rabugento, que mais botava medo nas pessoas do que demonstrava amor. Fui ensinado a obedecer sem questionar, e que o pastor era o “ungido de Deus e ninguém pode tocar nele” seja lá o que isso quer dizer, mas na prática era que tal indivíduo jamais poderia ser questionado. Você crescer assim, com alguém sem muita noção do que está fazendo é a receita para o estrago. Passei mais tempo com medo de ser castigado por Deus e ir para o inferno do que amando. Ora, o amor é o centro do cristianismo. A Bíblia diz que Deus é amor. Se você se diz cristão e não tem amor no coração, você está na religião errada. Bom, somado a isso e ao medo que tinha, passei grande parte da vida vegetando. Vivia na tríade casa-escola-igreja e mais nada. Nunca pude ter amizades, não podia viajar, sair, me divertir. Ir a um show era motivo de conspurcação pública por aquele pastor. Até que cheguei a decisão de mudar de igreja. Comecei a frequentar outra igreja, bem distante, literalmente em outra cidade. Viajava cerca de 40 minutos todo domingo para ir a esta igreja nova, mas só vi mais do mesmo. Até que cheguei a decisão de parar de frequentar a igreja. Hoje faço parte do movimento dos “desigrejados”. Pessoas que se intitulam cristãs, mas vivem sua religiosidade fora dos templos. É libertador na verdade, você poder viver livre de pressões, poder questionar e não aceitar que lhe manipulem em nome de Deus.

depressed-1-600x388Outro grande conflito que enfrente é em relação a minha homossexualidade. Algo que bate de frente com os dogmas da igreja. Não quero ser gay, não aceito isso. A pressão social ainda é forte, o Brasil místico/religioso ainda causa muito estrago na vida de um homossexual. Odeio lideranças políticas como Jean Wyllys; gostava de pessoas sensatas como Clodovil. Não há diálogo, só se vê classes se digladiando, cada um querendo ter mais razão que o outro e nenhum acordo se faz. Neste meio termo, há muitos como eu que não conseguem se assumir, vivem uma vida de aparências e sofrimentos, marcadas com lágrimas e até mesmo sangue, já que muitos carregam o estigma da violência em seus corpos. Para piorar a religião mais uma vez se intromete nas decisões pessoais. Lideranças como Silas Malafaia e Marco Feliciano têm causado um terrorismo terrível nesta nação. E infelizmente em briga de bandidos grandes a gente não se mete. A corda sempre arrebenta no lado mais fraco. Conciliar tudo isso é quase impossível. Aqui eu volto ao início da reflexão. Qual o sentido disto tudo. Qual a finalidade da vida? Qual a finalidade de vivenciar isso? Crescer como ser humano? Poderia crescer de outra forma. Ajudar àquelas pessoas que passam o mesmo que eu? Já é triste uma pessoa passando por isso, imagina um grupo! A vida é curta demais para se perder tempo, e longa demais para ser suportada em silêncio. Não sei quando tudo isto chegará ao seu ocaso, só me resta seguir em frente. Seja o que Deus quiser, já que eu não sei mais o que querer.

Nosce te ipsum

Autoconhecimento é a perda da inocência. -Alissa White-Gluz

autoconhecimentoFico observando o quanto estamos despreparados para receber uma crítica, e mais ainda, para sermos auto críticos. Vemos pelas redes sociais frases do tipo “alguém que fala mal de você te admira em segredo” e coisas do tipo querendo nos colocar acima do mal (algo que acredito que nenhum de nós está). Acho até mesmo burrice de uma pessoa achar que todas as pessoas que falam mal dela falam sem fundamento ou por inveja, chega a ser ridícula tamanha prepotência. Ora, nós não fazemos só o bem, e um dos males que fazemos também é falar dos outros. Quem nunca o fez atire a primeira pedra ou morda sua língua. Mas a questão aqui é outra. Será que me conheço tão bem a ponto de fazer uma crítica fiel e sensata àquilo que sou? Será que me conheço bem de fato? Esperamos muito das pessoas, mas será que fazemos por onde alcançar o devido reconhecimento que almejamos? Acho que poucos conseguem. E se o que você faz é em troca de reconhecimento, muito do mérito de suas obras é vão. Acredito que as críticas que muitas vezes tomamos por infundadas têm mais fundamento que imaginamos. Mas com é difícil sermos criticados. Pior se vem de alguém que deveria nos apoiar, pois amor de família e amigos deveria ser incondicional. Mas amor incondicional não é aceitar nossas falhas e só. Há uma frase bíblica que diz que fiel é a ferida feita pelo que ama. E se essa ferida vem em forma de uma crítica, que seja.

autoconhecimento2Não temos mais tempo de parar. Estamos ocupados demais correndo atrás de um emprego que pague bem, de bens de consumo, de estar na moda, de ter amigos, de tudo, e por mais que pareça clichê, estamos vendo o tempo passar e quando acordarmos, SE acordarmos, talvez seja tarde demais… Apesar de críticas contrárias, acredito sim que estamos vivendo na pós-modernidade, uma época de crise e de incertezas criada basicamente quando o mundo resolveu se tornar uma sociedade de consumo e carimbada com a queda do muro de Berlim em 1989. Exaurimos tudo nesta vida, menos nossas desculpas. Você se conhece de fato? Você é capaz de reconhecer em voz alta todos os seus defeitos? E depois disso, é capaz de trabalhar para mudar? Todos nós mudamos, sempre. A vida dá voltas que nem imaginamos (e este é um dos motivos para se viver despreocupados, o que tem seu lado bom e seu lado ruim) e, de fato, não somos mas as mesmas pessoas de ontem. A partir do momento que eu me conheço de verdade vou ser capaz de rebater as críticas que me fazem, não com palavras, mas com atitudes. Alguns se calam diante de uma crítica, o que é melhor, pois o silêncio tem um valor inaudito, mas o silêncio também precisa passar uma mensagem, pois de coisas vazias o mundo está cheio. Talvez você, como o filósofo, descubra que só sabe que nada sabe, mas nunca é tarde para começar uma jornada de autoconhecimento. Apenas comece…

Em Silêncio

desesperoJá prestaram atenção como os filmes de terror ou se passam de noite ou em lugares desertos? Pois é, assim é a vida de quem vivem em solidão. Deserta, noturna e cheia de incertezas e medos. Com um eterno paroxismo na alma, tentamos sobreviver dia após dia pensando como será nosso amanhã, se é que existe um para nós. Ah!… Suspiro imaginando quando algo diferente irá acontecer. Hoje a solidão se tornou lugar comum. Sufocamos no vazio, choramos para ninguém em especial e questionamos o por quê de tudo. Questionamentos são a ambivalência maior pela qual passamos. Ao passo que questionar não ajuda muito, também nos faz ir atrás de respostas, sejam elas boas ou más. Escrevo esta postagem em solidão absoluta. Ouço o tempo passar implacável e inexoravelmente rumo ao desconhecido e fico a pensar como será o fim de tudo, o fim destas dores. Sei que lamentar não ajuda, mas meu querido e estimado leitor, preciso expurgar este sentimento dentro de mim. Quem sabe amanhã possa eu sentir uma lufada de alívio para esta mão que aperta meu peito, que pressiona meu coração contra uma parede fria e me faz sentir tão deslocado. O medo é um companheiro tão fiel, e em um mundo carente de fidelidade, talvez devesse fazer as pazes com ele e tratá-lo melhor, afinal, ele já salvou minha vida algumas vezes. Mas a amizade com o medo é um relacionamento ambíguo. Tenho pesadelos constantemente, em parte culpa de um remédio que tomei, um antidepressivo que provoca tais efeitos, mas em parte por causa das cicatrizes. Os sonhos são a forma que seu subconsciente apresenta algo retido no seu interior. Segundo os cientistas, o pessimismo é um fator genético, logo não há muito o que fazer em relação a um pessimista. Junte-se as duas coisas e o resultado será uma pessoa não muito agradável para se ter por perto. E as pessoas em seu egoísmo não pensam duas vezes antes de se afastar. O mundo não tem paciência para oferecer e se seu coração se partir você terá que juntar os pedaços sozinho. É a velha filosofia de guerra: aceite que você já está morto e quem sabe, você sobreviverá. Hoje serei breve nas minhas palavras… Acho que não há muito a ser dito. O que sobra depois disto é apenas silêncio…

Roda Gigante

clamor-angustiaFalar de nossos medos para psicologia é algo positivo, já que você se livra daquilo que lhe sufoca, lhe deixa tenso. Mas infelizmente nem todos temos acesso a um psicólogo, e para as demais pessoas aturar os problemas dos outros é motivo suficiente para manter distância, o que pode nos deixar frustrados. Esse é o motivo de muitas pessoas vestirem uma capa de felicidade mas no fundo de suas almas estarem amarguradas e presas a um peso dentro de si muitas vezes insuportável. Deveras tenho me sentido assim. São momentos em que ora estamos bem, ora estamos mal, e essas variações ocorrem diversas vezes não ao longo dos meses ou dos dias, mas várias vezes dentro de um dia, diuturnamente. Medos são caçadores exímios e sanguinolentos, e se não formos presas astutas seremos massacrados. Várias vezes aqui no Exalando a Alma tratei de medos, daqueles que eram, que são, e dos que podem vir e ainda daqueles iminentes. Não apenas medo, mas dualidades, no meu caso entre o cristianismo e a homossexualidade. Um dos medos que mais me afligem é o medo da morte. Sei que é tolice temer a morte, definitivamente não há como evitá-la. Começamos a morrer no momento em que nascemos e, para mim, este é o grande paradoxo da vida. Outro medo que tenho é não entender o por quê de existir. A existência do tudo, do universo, da vida, do cosmo me intriga muito. Por que existe algo ao invés do nada? Absolutamente ninguém tem resposta. Por que alguns tem tanto na vida e outros padecem horrorosamente? Por que empatia se tornou um item raríssimo e luxuosíssimo em nossa sociedade? São muitos os questionamentos que carrego dentro de mim e sei que não sou o único. Hoje tem sido difícil me sentir bem. Meus dias se resumem a pensar no meu futuro, a tentar fazer algo para mudá-lo e simplesmente não obter êxito nenhum. Lassidão levou-me a ser um procrastinador compulsivo. O medo me levou à paralisia. Já tive depressão, é um poço fundo. Não sei como saí dele, mas não me afastei deste poço. Ainda caminho nas suas bordas e, apesar de balançar muitas vezes, tenho conseguido manter-me equilibrado.

dsc09850Para mim a melhor parte do dia é quando chega a noite e consigo dormir. Dormir e esquecer que existe uma vida cheia de dificuldades a serem superadas. Não me julgue caro leitor, não estou apenas lamentando. Eu tento. Acordo todos os dias, estudo, procuro emprego, respiro fundo, sorrio mesmo sem motivos. Mas quando tenho que encarar meus sentimentos eles pesam. Às vezes estou no alto da roda gigante e vislumbro um horizonte tão belo, mas logo ela desce e encaro um vale de lágrimas. Rodas gigantes se movem sem sair do lugar e sei que muitos estão presos a uma. Muitos como eu estão cheios de questionamentos, buscando respostas enquanto outros já desistiram e esperam apenas o fim desejando que ele não seja tão amargo e doloroso. Outros mantém a esperança que tudo mudará e outros trabalham para mudar tudo. Eu apenas me encontro no limiar das opções. Para quem aprendeu a controlar seus medos é fácil dar uma resposta. É muito fácil encontrar a solução. Mas soluções não caem prontas, muitas vezes precisam ser fabricadas, precisamos descobrir as ferramentas certas, a técnica menos agressiva. Além dos temores que descrevi, há o dualismo que vivo. Acredito em Deus, acredito na Bíblia, mas já não acredito que há solução para o que vivo. Queria poder assumir logo que sou homossexual, mas ainda tenho muito a perder. Queria poder dizer meu nome verdadeiro neste blog e estampar minha foto e simplesmente dizer “este sou eu”, mas o preço é alto demais e não tenho como pagar. Tenho um verdadeiro trauma de evangélicos. Hoje para mim eles representam o que tem de pior na humanidade ocidental. Claro que há exceções, mas são poucas. Queria realmente obter ajuda para meus dilemas. Não quero respostas niilistas, de pessoas que simplesmente desprezam aquilo que tenho dentro de mim. Então muitas vezes só me resta o silêncio. E com o silêncio vem o sufocar da alma. O que fazer? Eu não sei. Hoje estou novamente desconexo… Perdi a linha por causa das lágrimas que me turvam a visão. Estou começando a aceitar que a vida não deve ser vivida em busca de compreensão, mas de aceitação. O difícil é aceitar aquilo que levo comigo. Seja como for, ainda quero acreditar que enquanto há vida há esperança, mesmo que ela pareça distante. Se eu não perecer, quero acreditar que um dia a alcançarei…

Farsante

magoasSou cristão apesar de não frequentar igreja. Fui criado em uma igreja evangélica e frequentei esta igreja até os meus 28 anos, logo, conheço por dentro este movimento e suas doutrinas que, apesar de variações, têm uma mesma base, que são os ensinos de Cristo. Ser um bom cristão é muito difícil pois, ao passo que você não deve julgar os outros e tem o dever moral de amar e ajudar seu próximo, você também não pode ser conivente com os erros deles para não acabar sendo cúmplice do pecado do seu próximo. Um dos pecados que a Bíblia diz que não tem perdão (são dois), é exatamente a falta de perdão (Evangelho de Mateus cap. 6 versos 14 e 15). Eu, sendo cristão, não sou perfeito, erro e erro muito. Mas eu tento reconhecer meus erros e tento pedir perdão àquelas pessoas que magoo. Mas o que eu observo é que no meio evangélico o perdão é um bem de consumo luxuosíssimo e extremamente caro. Eu faço de tudo para não guardar rancor (não sou hipócrita, sei que tenho muitos rancores, principalmente contra o sistema em que fui criado), mas tento perdoar as pessoas. Pode não parecer, mas tenho um coração mole; quando alguém me pede perdão eu não hesito, perdoo mesmo. Só que nem todos são como eu. Eu tinha um amigo, uma boa pessoa, a quem eu causei algumas feridas de forma involuntária. Ele é evangélico. Me afastei dele em 2010, esperei a poeira baixar e recentemente o procurei apenas para pedir perdão. Me arrependi de tê-lo feito. Às vezes é melhor deixar o estrago feito e seguir a vida. Sei que não tenho moral para criticá-lo, eu, na minha inocência, lhe causei alguns males, mas fiquei imaginando de que adianta professar uma fé cujas bases são negligenciadas? Eu fui atrás do perdão porque quero ele, preciso de um palimpsesto na minha consciência. Infelizmente na minha vivência com os evangélicos sei que este meu ex-amigo faz parte da regra e não da exceção. Mas não posso julgá-lo. Não sei se o meu veredicto foi merecido, mas foi dolorido. Há meandros da história que são desconhecidos por nós dois. Fico imaginando como uma amizade, a única que tive na vida, começou tão bem e acabou tão mal? Creio que a minha solidão criou necessidades em mim e eu cobrei do outro quando eu, e apenas eu, deveria ser o responsável por suprí-las. Eu me sinto um cristão farsante, pois quero do outro o que muitas vezes eu não tenho para passar em frente. Mas há um crime em querer perdão, amor e compreensão? Creio que todos buscamos isso alguma vez em alguém, não sou o único. Seja como for, a ferida foi aberta em ambos, e o único remédio nos é negado.

Fracassado

É como se os nossos medos tivessem ganhado a capacidade de se autoperpetuar e se autofortalecer; como se tivesse adquirido um ímpeto próprio – e pudessem continuar crescendo unicamente com base nos seus próprios recursos. –Zygmunt Bauman, Modernidade Líquida

Entender o que passa conosco é uma tarefa complicada. Nós erramos, acertamos, praiaerramos de novo, tentamos acertar, erramos, tentamos consertar as coisas, alguns desistem outros esperam e outros continuam tentando (e errando, diga-se de passagem). Acho que sou uma mixórdia disso tudo. Hoje parei para analisar alguns acontecimentos da minha vida em que eu veementemente culpei os outros e, de verdade, senti vergonha de mim mesmo ao descobrir que fui o único culpado, algumas destas coisas até relatadas aqui no blog. Nossa, e como sempre, tenho um espírito irrequieto que tenta consertar aquilo que foi escangalhado, mas como é difícil lidar com as pessoas. Perdão custa caro demais, algumas vezes o preço é simplesmente impagável. Isso me entristece pois tenho consciência que todos erramos e todos queremos uma segunda chance, mas são pouco que estão dispostos a nos dar essa segunda chance. Muitas vezes, situações nos deixam com medo de tentar, e o medo só cresce, o tempo passa e quando se olha para trás percebe-se que poderíamos ter feito algo, mas simplesmente deixamos passar e ai vem o sentimento de fracasso, os questionamentos e tudo o mais.

Sei que não sou perfeito, sou um cara que teme muita coisa, me falta poesia para imagesver a vida com outros olhos e sobram julgamentos por não ser o paradigma aceitável de um homem do século XXI. Tenho medo constante e crescente de cometer os mesmos erros do passado, sei que mudei muito, mas tenho uma natureza e esta não me deixa em paz, incomoda constantemente. Maturidade é uma árvore que demora a crescer e requer cuidados especiais, muitas vezes é regada com lágrimas e adubada com muita vergonha, mas espero poder provar seus frutos e espero que sejam doces. Por estes dias me surpreendi quando alguém que sei que magoei muito me procurou, mas a frieza com que fui tratado me fez questionar se valeu a pena ter sido procurado (confesso que fui atrás algumas vezes). Sim, senti um fracassozinho pinicando meu ego por não ser capaz de lidar com meus sentimentos e com os sentimentos alheios… Odeio criar expectativas, mas não consigo evitar. A esta altura da vida já deveria ter aprendido a lidar melhor com as pessoas. Sinto vergonha de quem fui um dia. Acho que ainda sinto vergonha de quem sou. A vergonha é um sinal que carregamos para sempre. Alguns se habituam, outros a sentem latejar.

Talvez seja simplesmente inútil parar um momento para escrever sobre estes tristezatemores, escrever sobre meus fracassos, já que muitos consideram isto uma perda de tempo, e deveríamos simplesmente celebrar a beleza da vida blá, blá, blá, mas eu sei que a vida é cheia de vicissitudes, e nem só de beleza se vive, já que o que mais nos ensina a viver é a dor. A dor é a melhor professora que teremos, a melhor amiga, para alguns (reconheço que não é meu caso) ela é a única. Mas aqueles que sentem a dor sem medo são os seres humanos mais nobres que encontraremos. Talvez eu celebre minhas dores um dia, sentindo orgulho de cada ferida de batalha, assim como um soldado que, apesar das marcas, sabe que seu sofrimento foi para um bem maior. Quem sabe este dia venha a raiar amanhã mesmo. Até lá, só posso continuar tentando aprender a viver, já que não me dou a opção de sucumbir. Que venham os fracassos, eles não são os únicos galardões!

 

Inevitável

Viver é sofrer, sobreviver é encontrar algum significado no sofrimento. –Paul Hoffman, em ‘O Bater de suas asas’

Ainda pensando nas palavras do autor ai em cima, tem uma frase neste mesmo livro que diz: o suficiente é como um banquete para o sábio. Viver dói. Simples. Eu 4hbcawtento sobreviver, e sim, tenho conseguido. Simplesmente não me sinto banqueteado e, se de fato o que nosso querido autor supracitado disse é verdade, não sou sábio, muito pelo contrário. Ainda busco o que não posso ter, ainda sofro pelo desconhecido e muitas vezes desprezo aquilo que está diante de mim. Mas, sejamos sinceros, quem, de fato, sabe aproveitar cem por cento daquilo que lhe vem à mão? Ninguém consegue. Mais uma vez estou a pensar nas vicissitudes da vida, e mais uma vez estou a me surpreender com as voltas que ela dá. O que mais me deixa comovido são as perdas que enfrentamos na vida, seja aquele brinquedo especial na infância com seu valor intrínseco, seja o primeiro amor da adolescência, até a perda mais cruel e inevitável de todas, a morte de alguém a quem amamos. As podas são mais que necessárias, mas vou ser sincero, apesar de sentir-me aliviado pelos fardos que consigo, com muito custo diga-se de passagem, me libertar, odeio estas podas. Ninguém está de fato preparado para mudanças, principalmente aquelas peremptórias que a vida resolve nos dar. Há alguns dias estava olhando fotos de infância, lembrei do tipo de garoto que fui, tinha um sorriso fácil, uma gargalhada solta e sempre uma palavra na ponta da língua… Não que hoje eu esteja em silêncio, mas o sorriso e a gargalhada se foram, poucos são os que me veem rir de verdade. Acho que isso acontece com todos nós, afinal, crescer nos modifica bem no âmago, na nossa essência. Modificar a essência é modificar todo nosso ser. Bauman defende que as mudanças sociais (e entenda-se aqui o “sociais” exatamente sendo o nosso contexto social), nos modifica por inteiro, inclusive o corpo. Duvida? Pense em quantos que sentem-se oprimidos neste momento e descontam suas frustrações na comida, ou aquelas pessoas que para serem aceitas esculpem seus corpos plastificando suas aparências e seus corações em troca de um afeto efêmero de seres tão vazios de autoconhecimento quanto elas mesmas… Eu prefiro me conformar. Acho que quem tiver de me aceitar vai ter que Solitário tristeaceitar como sou. Não sou um produto, me recuso ser transformado em um, mas, de verdade, é difícil aceitar-nos se não somos aceitos pelos outros. Afinal, somos seres sociais e dependemos sim da aprovação de outros. Se não da maioria, mas daquelas pessoas que fazemos nosso alicerce, nosso paradigma. Há pouco ouvia uma música cuja letra diz: son, sometimes it may seem dark, but the absence of the light is a necessary part (filho, às vezes, pode parecer escuro, mas a ausência da luz é uma parte necessária). A verdade é que conhecemos o bem por causa do mal, a luz por causa das trevas, e o prazer por causa da dor. Psicologia e lógica, quem sabe também uma pitada de paixão nestas humildes palavras. Esse maniqueísmo pode nos tornar fortes ou pusilânimes, a escolha é pessoal. Mas, será que há escolha? Para muitos não há, pois a dor é amiga íntima, diária e inevitável…

Meninos não choram

Hoje acordei estranho e se eu pudesse resumir toda minha vida em uma palavra seria cansaço. É estranho você estar explodindo por dentro e ter que fazer de conta que nada de ruim está acontecendo com você. Sinceridade afasta as pessoas essa que é a verdade. Sempre que estou sozinho procuro ser sincero comigo e com meus sentimentos. Choro muito. Chorar faz bem, mas às vezes gostaria de chorar acompanhado, não por qualquer um, mais por alguém que pudesse pelo menos entender que eu não sou de aço e que vou balançar de vez em quando. As últimas grandes coisas que vivi na minha vida foram boas, mas como tudo o mais acabaram por me deixar um trauma ao invés de alegria. Às vezes penso que é uma grande bobagem eu escrever um blog pra falar a meu respeito e de meus sentimentos, já pensei em desistir disso tudo. Quando começamos algo sempre imaginamos o melhor e dificilmente nos preparamos para o pior. Simplesmente não sei mais o que pensar da vida e o que pensar de mim mesmo. Parece que estou em uma esteira, ando, ando e ando, mas não chego a lugar algum. Queria entender onde foi que eu errei pra ser alguém tão só? Não estou perguntando isso como quem quer fugir da responsabilidade de seus atos, mas realmente queria saber o que fiz de tão grave, de tão hediondo para as pessoas figurem de mim e não demonstrarem nada. Canso de revirar minhas noites sem dormir pensando nas coisas que deveria ter feito e que posso fazer, mas na hora de por em prática me falta coragem. Maldito seja o dia que nasci! Não vejo propósito nesta vida. Exatamente hoje preciso ir a um seminário explicar filosoficamente qual o sentido da vida. Como? Que respostas darei? Alguns conseguem a superação, outros apenas empurram a vida com a barriga e lutam para chegar sobreviver com e mínimo de danos possíveis. Ando com medo, traumatizado e assustado. Talvez seja minha sina rastejar. Ah! Até eu já estou farto da recorrência constante deste tema! Eu não sei o que fazer desta vida, nem sei porque deveria fazer algo. Tudo que tem um começo tem um fim. Eu não sou ninguém. Talvez seja melhor continuar assim, simplesmente não sendo ninguém.

Blog no WordPress.com.

Acima ↑