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Exalando a Alma

Reflexões de uma alma solitária

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Filosofia

Nosce te ipsum

Autoconhecimento é a perda da inocência. -Alissa White-Gluz

autoconhecimentoFico observando o quanto estamos despreparados para receber uma crítica, e mais ainda, para sermos auto críticos. Vemos pelas redes sociais frases do tipo “alguém que fala mal de você te admira em segredo” e coisas do tipo querendo nos colocar acima do mal (algo que acredito que nenhum de nós está). Acho até mesmo burrice de uma pessoa achar que todas as pessoas que falam mal dela falam sem fundamento ou por inveja, chega a ser ridícula tamanha prepotência. Ora, nós não fazemos só o bem, e um dos males que fazemos também é falar dos outros. Quem nunca o fez atire a primeira pedra ou morda sua língua. Mas a questão aqui é outra. Será que me conheço tão bem a ponto de fazer uma crítica fiel e sensata àquilo que sou? Será que me conheço bem de fato? Esperamos muito das pessoas, mas será que fazemos por onde alcançar o devido reconhecimento que almejamos? Acho que poucos conseguem. E se o que você faz é em troca de reconhecimento, muito do mérito de suas obras é vão. Acredito que as críticas que muitas vezes tomamos por infundadas têm mais fundamento que imaginamos. Mas com é difícil sermos criticados. Pior se vem de alguém que deveria nos apoiar, pois amor de família e amigos deveria ser incondicional. Mas amor incondicional não é aceitar nossas falhas e só. Há uma frase bíblica que diz que fiel é a ferida feita pelo que ama. E se essa ferida vem em forma de uma crítica, que seja.

autoconhecimento2Não temos mais tempo de parar. Estamos ocupados demais correndo atrás de um emprego que pague bem, de bens de consumo, de estar na moda, de ter amigos, de tudo, e por mais que pareça clichê, estamos vendo o tempo passar e quando acordarmos, SE acordarmos, talvez seja tarde demais… Apesar de críticas contrárias, acredito sim que estamos vivendo na pós-modernidade, uma época de crise e de incertezas criada basicamente quando o mundo resolveu se tornar uma sociedade de consumo e carimbada com a queda do muro de Berlim em 1989. Exaurimos tudo nesta vida, menos nossas desculpas. Você se conhece de fato? Você é capaz de reconhecer em voz alta todos os seus defeitos? E depois disso, é capaz de trabalhar para mudar? Todos nós mudamos, sempre. A vida dá voltas que nem imaginamos (e este é um dos motivos para se viver despreocupados, o que tem seu lado bom e seu lado ruim) e, de fato, não somos mas as mesmas pessoas de ontem. A partir do momento que eu me conheço de verdade vou ser capaz de rebater as críticas que me fazem, não com palavras, mas com atitudes. Alguns se calam diante de uma crítica, o que é melhor, pois o silêncio tem um valor inaudito, mas o silêncio também precisa passar uma mensagem, pois de coisas vazias o mundo está cheio. Talvez você, como o filósofo, descubra que só sabe que nada sabe, mas nunca é tarde para começar uma jornada de autoconhecimento. Apenas comece…

Inominável

Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento. Eclesiastes 9.5

morteDe todos os temores que tenho existe um que me aterroriza. Exatamente, o maior de nossos inimigos, o invencível terror que acomete a cada ser vivo que pisa na terra, inexorável, implacável, insensível: a morte. Pensei em vários títulos para esta postagem mas não consegui nenhum que se adequasse ao que penso sobre a morte. Tenho muitos temores, mas confesso que o medo de morrer é o maior de todos. Sei que não vencerei a morte, ela é maior que todos nós juntos. Mas posso vencer o medo dela. Já imaginei como seria viver para sempre, literalmente, e minha imaginação não conseguiu alcançar outro pensamento que não o pensamento da angústia de caminhar em um vazio que é a existência humana. Me questionei muitas vezes por que existir se vamos cessar de existir um dia. Por que a morte tem que ser o complemento da vida? Por que a vida é um breve momento e nada mais? Poucos conseguiram deixar um legado para a posteridade, e pessoas como eu cairão no esquecimento pouco tempo depois que deixar esta existência. Não há um dia em que eu não pense na morte, não há um dia em que eu não pense como cessarei esta jornada e o que há depois. Como fui criado na tradição cristã, fui ensinado sobre a vida após a morte, sobre um paraíso eterno para aqueles que seguiram as regras e um lugar de tormenta para aqueles que a transgrediram. As dúvidas que tenho não são aceitáveis no sistema religioso evangélico, o qual fui criado mas do qual já não faço parte. Logo, como sanar minhas dúvidas se mal posso expressá-las? Como exterminar um medo que me domina sem criar outros que o substituam? Deveras sinto arrepios de externar tais temores, não sei se reflexo do meu já fragilizado psicológico em relação a este tema, ou se reflexo dos ensinamentos que recebi ao longo da vida. A única coisa que sei é que a morte é inevitável.

esculturas_cemiterio_02Acredito que um dos maiores problemas em nossa sociedade tratar da morte seja o medo também, bem como a busca incessante que temos pelo prazer ao invés de encarar a dor. Adiamos os pensamentos sobre o tema, aqueles que tratam deste tema são mal vistos, tachados de pessimistas, agourentos e outros nomes estúpidos. Mas quando encaramos a morte de frente buscamos desesperadamente por respostas, nossos medos vêm a tona. Acredito que você meu leitor já participou de um velório e provavelmente saiu dele imaginado como a vida é frágil e, de certa forma, agradecendo por ter a chance de viver mais um pouco e tentar fazer as coisas da maneira correta. Eu já. E confesso que se não fosse o medo constante, eu esqueceria da sensação e levaria a vida desregrada que tanto agrada aqueles que a vivem. Afinal, quem em sã consciência recusa uma boa dose de prazer? Religiões, filosofias, livros de autoajuda, conferencistas e afins tentam explicar o que é a morte e como superá-la. Aqueles que hoje se encontram em um leito de hospital com uma quadro irreversível talvez percam o sono pensando que podem não atravessar o dia. As pessoas que têm uma característica mais sorumbática como eu pensam diuturnamente como será sua passagem, se dolorida ou tranquila. Eu imagino se vou ter uma nova chance, um novo dia. Estamos cercados de fatos que nos esfregam a face que a qualquer momento pode ser nosso último. Eu me questiono: será que estou no caminho certo? Ah!… Que temor persistente que faz meu coração palpitar cada vez mais forte a cada novo pensamento! Uma professora minha certa vez disse que a morte é o complemento da vida. Acho que só nos resta nos adequar a ideia, dar o melhor de si, colher os resultados e no último suspiro, poder dizer que fomos o melhor que pudemos ser. À posteridade caberá o resto.

Fuga do Pensamento

mente-livre-224x300Ultimamente parece que as pessoas andam sentindo calor por fora e frio por dentro. São dias que não sabemos o que esperar da humanidade, não sabemos como agir em relação ao próximo. Problemas psicológicos são lugar comum para muitas pessoas. Síndrome do pânico, depressão, ansiedades. Olhamos para todos os lados procurando uma caverna aonde nos esconder e conseguir respirar aliviados, longe das tensões que nos cercam. A vida anda se tornando um drama, como uma locomotiva desgovernada, só que nesta história não há um mocinho que freie o trem. Não há respostas fáceis para a nossa sobrevivência nem acredito que elas seriam úteis, mas há um momento em que precisamos nos desligar de tudo para podermos suportar a estrada da vida. A vida é um momento curto, e acredito que devemos passar por este momento da forma mais solene possível. Como é difícil viver escravo do medo e da tensão. Erguer a cabeça é o que nos resta. Gosto das palavras de Sêneca:

A magnanimidade é uma virtude apropriada para todo ser humano, até para o mais baixo entre os mais baixos. Afinal, há grandeza ou coragem maior do que derrotar o infortúnio?

392987_148386251977329_1837350701_nFreud pregava a busca da felicidade como algo pessoal, onde cada um deveria achar seu caminho. A vida sempre se compara a uma estrada, com suas paisagens e seu vales profundos. Algumas estradas nos dão motivos de sobra para querer morrer, mas o triunfo estar em achar motivos para viver quando tudo está em trevas. Fugir dos pensamentos que nos arrastam para o fundo do poço é achar um meio de ser feliz, não por causa das condições (que nem sempre serão propícias), mas apesar das condições. A morte espera a todos nós, e é difícil não temê-la. Eu temo, e muito. Temo porque não a compreendo, e costumamos temer o que não compreendemos. Nasci com ideia de que a existência é banal, insípida e sem propósito. Nascemos em pé de guerra com o mundo. Mas reconheço que preciso fugir deste pensamento, senão ele se tornará profético, e minha existência de nada valerá. Não é necessário filosofias profundas para entender que eu faço a minha história. Mas voltamos ao princípio desta reflexão: quem garante que sabemos o que fazer de fato? O que nos resta é tentar. Tentar fazer diferente, mesmo que o medo seja maior que a vontade, não podemos deixar que ele subjugue nossa força. Uma leitora verta vez comentou em uma postagem que o medo é a trava da vida. Ela sintetizou de forma exata. É impossível não sentir medo, a vida e todos os seus meandros são maiores do que qualquer coisa que possamos conter, dentro ou fora de nós, mas precisamos perceber que o medo pode sim ser subjugado. Aliás, acredito que o medo faça nossas vitórias mais doces, e as derrotas que passamos na vida nos oferecem as lições mais preciosas que receberemos nesta existência. Nem sempre fugir será possível, enfrentar a vida não é uma escolha; às vezes a fuga é necessária, ela nos evita grande sofrimento. Fugir nem sempre é covardia, algumas vezes é estratégia de sobrevivência. Mas o embate, seja ele qual for, estará sempre a nossa espera. A vida não vai esperar você estar pronto para a luta, destarte, esteja sempre alerta.

A dor da alegria…

Fosse o mundo um paraíso…

– paraíso de verdade! –

morrerias sem saber

o que é felicidade… –Mario Quintana

A dor é uma necessidade e as pessoas podem perder sua identidade e sua habilidade para protegerem a si mesmas se não a experimentam. – Dan Blazer, Ph.D

O sofrimento faz parte da vida de qualquer pessoa, seja em que grau for. Claro, muitos de nós jamais experimentaremos dores profundas como nossos irmãos dos países extremamente pobres da África, por exemplo. O Exalando a Alma tem recebido visitas de vários países, e já conseguimos cobrir os cinco continentes, então o contexto em que se encontram os leitores são os mais variados. Já recebi visita de países como Moçambique e Angola, que podem entender o contexto do sofrimento mais que os visitantes de países como Portugal e Estados Unidos, que depois do Brasil são meus maiores visitantes. Mas fato é que todos nós, ao longo da caminhada, experimentamos a dor. Seja da solidão, seja enfermidade, seja luto ou, pior de tudo, aquela tristeza aparentemente sem motivo que sentimos do nada e que nos deixa sem a menor ideia que como nos livrar dela, pois o vazio que ela carrega para dentro de nós parece impreenchível e nada do que fizermos sanará este mal… Há uma frase que diz: Quando Deus criou a luz nasceu a primeira sombra. Acredito que, se hoje conhecemos a alegria, é por causa da tristeza; se conhecemos o bem, é por causa do mal; só conhecemos o prazer por casa da dor.

Em uma conversa com um mestre da faculdade certa vez, ele me disse que para a filosofia, o homem também passa por uma metamorfose. O propósito da vida é a beleza, não a física, mas a beleza do engrandecimento do homem, e para isto ele atravessa os três estágios:

  • Larva: quando este homem e ignorante, não possuindo conhecimento algum que o eleve;
  • Casulo: quando este homem entra em um estado de reflexão sobre a vida e seus meandros;
  • Borboleta: quando este homem alcança o conhecimento e, principalmente, o autoconhecimento.

Infelizmente poucos alcançam o estágio final. A nossa cultura nega o sofrimento de uma forma tão absurda que chega a idiotizar as pessoas. O otimismo moderno prega que você jamais passará dificuldades na vida, principalmente depois do advento massivo de igrejas neopentecostais e do movimento carismático da Igreja Católica, mas o fato é que o verdadeiro otimismo passa longe disto. Otimismo é eu saber que vou ter problemas na vida, mas serei capaz de superá-los. Achar que nunca sofrerei só me deixará vulnerável. Olhar ao redor e fazer de conta que não tenho problemas não os sanará. Mas quando superamos nossa dor, a alegria torna-se inefável. É como um parto, você que é mãe sabe a dor de ter um filho, mas sabe que a alegria de trazer uma vida ao mundo é maior que qualquer sofrimento, e a recompensa dura uma vida inteira. Soframos sim, mas de cabeça erguida!

Relativamente certo

Duas esquerdas não fazem uma direita. – Desconhecido

Há uns dois anos assisti um filme chamado Valente, com a Jodie Foster, cuja história é de uma apresentadora de rádio, Erica Bain, que sofre um ataque junto The-Brave-One-upcoming-movies-216099_1600_1200com seu namorado em um parque de Nova Iorque, e seu namorado acaba morrendo. A apresentadora sente uma revolta em relação a tudo que lhe acontecera, já que estava de casamento marcado, e há uma lassidão por parte da polícia em resolver seu caso. Em um determinado momento Erica compra uma arma e começa a matar alguns meliantes da cidade, causando uma comoção pública, sendo que sua identidade não é revelada ao público, uma espécie de justiceira anônima. Enquanto Erica pratica seus atos de justiça solitária, o detetive Merce trabalha arduamente para encontrar o tal justiceiro enquanto tenta resolver o caso de Erica. Há uma cena no filme em que entende-se que o detetive (que é muito correto em suas atitudes) desconfia de Erica e deixa claro que não hesitaria em prendê-la caso ele descobrisse que ela era a assassina. Em um determinado momento Erica descobre quem foram os assassinos de seu namorado e vai atrás de tirar satisfações, sendo que esta descoberta é feita através de um vídeo enviado para seu celular, que ela reenvia ao detetive. No confronto final, o detetive forja toda uma situação e dá a chance à Erica de se vingar daqueles assassinos, matando o último com um tiro no olho.

Onde quero chegar? Este filme levanta uma questão interessante. Até onde nosso conceito de certo e errado realmente vale na prática? O resumo que fiz é corrido demais para apresentar todos os meandros explorados pelo filme, mas o cerne da discussão é um: este policial que é correto em todos os seus atos abre mão do seu padrão moral após entender a gravidade da dor que Erica sentia. Eu convivo no meio de fundamentalistas, o que considero insuportável, não há como não vê-los como idiotas inúteis, apesar de saber que me renderia ao seu erro e acabaria sendo hipócrita. Sou homossexual, não quero ser, não escolhi, mas sou tratado como se fosse completamente responsável por isto. E pior é que sempre ouvimos um discurso impraticável de que temos que mudar a qualquer custo senão sofreremos as duras consequências de nossas escolhas. Sei que muito do preconceito que existe contra os homossexuais é culpa da própria classe LGBT que pede respeito mas não se dá respeito. Não apoio movimento gay, nem parada gay, nem PLC 122, nem deputado Jean Willys (não sei se esta é a grafia correte e nem me interessa), pois todos são fundamentalistas, o que não gosto. Mas gostaria que a classe religiosa, uma vez, se colocasse no lugar de pessoas como eu, que sofreram abuso, humilhação, e tantas coisas, e se questionassem se seu discurso realmente tem validade. Citar apenas partes da Bíblia que são convenientes não têm validade nenhuma para o discurso. Só entendemos uma dor quando a sentimos.

Não espero compreensão das pessoas, não tenho prazer nenhum de ficar me gay boys kissingexplicando por ai, afinal poucos sabem que sou gay, e minha vida é de minha inteira propriedade e responsabilidade. Mas o incomodo é ser culpado pelo crime que outros cometeram. Sempre reprimi minha homossexualidade e até condenei por tanto tempo, mas chega um momento em que simplesmente não dá para empurrar o problema com a barriga. Fazer de conta que o problema não está lá não fará ele desaparecer. Depois de sentir com força o que desde criança venho reprimindo vi meus conceitos caírem por terra. Por mais que tente não pensar nesta encruzilhada que vivo é impossível simplesmente fazer de conta que não cheguei aqui. Saí da igreja, comecei a namorar um rapaz maravilhoso, mas não tenho me sentido confortável com minha condição. Queria que tudo fosse diferente, mas quem disse que tenho querer? A verdade é absoluta e não creio que seja alvo de discussão, fatos não são questão de opinião. A verdade é que sou gay, fato é que não escolhi. Odeio ser julgado por isto. Mas já que não está tudo diferente o que devo fazer? Repressão? Não é o caminho, acredite. Até lá viverei o que a vida me der, aprenderei as lições e depois… Se houver depois eu penso no que farei.

Efeito Ideomotor

Se realmente existe um Deus vivo, sou o mais miserável dos homens. –Frederich Wilhelm Nietzsche

Lembro-me que em 1995 surgiu uma cantora chamada Joan Osborne (conhecida como artista “one hit wonder”) e ela lançou uma música chamada One of Us, que tocou incansavelmente nas rádios do mundo todo e causou furor de alguns religioso, inclusive do Papa João Paulo II. Mexer com a religião é enfiar a mão em um vespeiro. Nietzsche soltou a pérola preferida dos fundamentalistas ateus, a famosa “Deus está morto”, mas na hora de morrer ele deve ter pensado melhor. Quem conhece bem a obra de Frederich Nietzsche sabe que ela se baseia na tragédia. Qual a conexão entre ambos? O que uma música esquecida tem a ver com um filósofo que viveu sempre no casulo? Tem a ver com nosso título. Efeito Ideomotor e um movimento involuntário causado por força externa a do objeto, muito estudado no espiritismo, por exemplo. Mas o efeito ideomotor que observo está na nossa zona de conforto, pois sendo criados com ideias pré-fixadas não aceitamos confrontos, taxamos logo de falta de respeito e lançamos mão da famigerada filodoxia apoiada por um discurso ad hominem que em nada influi a não ser na vontade de expurgar ideias contrárias a socos e pontapés…

Já deixei claro aqui minha posição acerca da religião, de como fui criado nela e do que penso a respeito hoje. Uma coisa me foi importantíssima: a dúvida. Exatamente este filósofo e esta música me fizeram parar um pouco para pensar se o que acreditava era de fato o que acreditava. A letra da música diz: e se Deus for um do nós? Só um tolo como nós? Só um estranho no ônibus voltando pra casa? Em 1995 tinha apenas 13 anos, estava em formação de ideias e pensamentos, mas esta música me deixou com uma dúvida por anos. Me afastei um tempo da religião, depois voltei, me afastei de novo, mas esta mexida no meu alicerce foi importante para moldar o que penso e se é, de fato, no que acredito. Hoje acredito Deus não por ser obrigado, mas porque cheguei a conclusão de que realmente é isto que faz sentido para mim. Muitas ideias mudaram de 1995 para cá, já não sou nem a sombra do adolescente que fui, espero ter evoluído e me firmado em algo sólido. Não quero acabar como Frederich Nietzsche e morrer em dúvidas, sequer acabar apenas em um casulo. Mas de uma coisa eu não abro mão: E Se?…

Eis a música…

Aprendendo a morrer

A vida é um caminho, a morte o destino. –Demon Hunter ‘I have seen where it grows’

Da Vinci certa vez se expressou que quando ele estava aprendendo a viver ele descobriu que na verdade estava aprendendo a morrer. Não flerto com a morte, mas a admiro. Há pouco assisti ao vídeo de um parto, achei uma coisa linda ver o mistério que envolve o geração de uma vida. Mas refleti que a vida é um paradoxo, pois no momento em que você começa a viver você também começa a morrer. Qual o proposito da vida? Simplesmente cessar. Não importa o quanto lutemos contra, um dia eu e você cessaremos de existir, e pode ser a qualquer momento, de qualquer jeito. Não é agradável pensar na morte, mas gosto de refletir no texto da Bíblia que diz:

Melhor é a boa fama do que o melhor unguento, e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém.
Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.
Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.
O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria. Eclesiastes 7:1-4

Este texto é do sábio Salomão, um homem que alguns consideram um mito, outros o consideram bem real. O senso comum diz que este é um livro de grande sabedoria. Salomão celebra a morte, não apenas dos homens, mas o fim de tudo. O fim pode ser um consolo para quem parte…

A questão que quero chegar é, será que nossa morte nos valerá boa fama? Leonardo Da Vinci entendeu. Epicúrio também. Na filosofia epicurista não há espaço para o medo. Qual sentido em temer o inevitável? Que proveito eu tenho em me preocupar com um destino do qual não posso fugir? Muitos tentam prolongar a vida, a juventude e tantas outras efemeridades que possamos imaginar, mas no final eu e você acabaremos não mais habitando entre os vivos. Quero deixar uma história. Há um poema de Mário Quintana que diz:

Quando abro cada manhã a janela do meu quarto É como se abisse o mesmo livro Numa página nova…

A vida não costuma dar segundas chances e, fato, para morrermos basta vivermos. Viva a vida com sabedoria. Viva a vida com esperança, consciente que um dia ela cessará, e que a posteridade poderá lembrar ou esquecer de você. Da Vinci foi lembrado como o maior gênio do renascimento. Talvez não alcancemos tamanha fama, mas quem sabe podemos alcançar uma recompensa no porvir.

Olhando pra frente pensando pra trás…

Eu sempre fico assustado em ver como a vida dá voltas; têm situações que mudam completamente nossa vida, mas outras parecem que mudam apenas. A mudança se percebe quando você vê a evolução no seu modo de ver, de pensar, de agir. Quando você vê situações acontecendo e você continua da mesma forma, o principal não aconteceu: você mudar. Pois é assim que me sinto ultimamente. Acredito que todos sentimos medo das mudanças, isto é normal. Mas é preciso cuidado para não ser paralisado pelo medo. Consegui observar mudanças em mim que, apesar de pequenas, foram significativas, pois são essas as mais fortes em nós. São os pequenos detalhes que nos moldam. São pequenas arestas que devemos aparar para moldar nosso caráter e nossa visão. Para algumas coisas perdi o medo, para outras ele diminuiu, mas quanto mais o tempo passa, mais percebo que vou ter que encarar a vida com medo mesmo. E por falar em tempo passando…

Sinto-me estes dias exatamente como no título. Penso muito em meu futuro mas com um saudosismo horroroso. Eu não sou saudosista, não sei sentir saudade de nada e isto está me assustando de verdade. Fato é que sim, reconheço que sinto saudades da minha infância, de quando a inocência deixava-me leve e despreocupado. Como já relatei situações aqui no Exalando a Alma que marcaram-me profundamente em relação ao meu pai, até minha forma de pensar nele tem mudado. Depois que conheci meu namorado, que descobri que posso ser amado, que existem coisas mais importantes que a beleza física e que dinheiro, não sei qual a ligação e qual sentido, mas tenho pensado em meu pai de forma mais indulgente. Claro que nada apaga as atitudes dele, mas ele já não está mais entre nós, não há mais nada que eu possa fazer em relação a ele; no entanto, não quero carregar mágoas dentro de mim, pois, a partir do momento da morte dele, a única pessoa a se prejudicar com os maus sentimentos seria eu. E me prejudiquei muito. Difícil não se prejudicar, mas não há fórmula para lidar com a situação. É a vida que vai ensinar.

Ultimamente tenho encontrado pouca inspiração para escrever. Meu tempo tem sido mais aproveitado para reflexões sobre minha vida de forma não muito clara e não muito dizível e/ou traduzível em palavras. Mas como este é meu canal de catarse não irei abandoná-lo. Quero acreditar que coisas boas ainda virão para mim. Quero acreditar que Deus ainda me dará uma chance de mudar tudo. De todas as pessoas que pensei que estariam longe de mim, Deus é a que menos imaginei. As pessoas dizem que Deus não se afasta de nós, nós é que nos afastamos dele. Acho um pensamento idiota. Não tenho uma filosofia epicurista, mas também não acredito que Deus nos ignore, só não acredito que Ele force a barra. Quero muito uma chance de acertar as coisas em minha vida, pois sei que, pelo menos para mim, ela não é o ideal. Espero um dia poder viver pelo menos um dos meus sonhos. Uma psicóloga amiga minha disse-me certa vez que tudo passa pelo querer. Hoje eu quero, pelo menos, ter força pra mudar mais ainda. Que a força venha. Que as mudanças sejam consequências.

Exercitando a catarse

Porque há o direito ao grito então eu grito. Clarice Lispector

catarse2Segundo a Encyclopaedia Britannica, Catarse é utilizada na psiquiatria para tratamento das psiconeuroses e consiste em estimular o paciente a narrar tudo o que lhe ocorre sobre determinado problema, afim de obter uma purgação (sentido original da palavra, em grego) da mente. Este também é um conceito desenvolvido na filosofia aristotélica, cujo ensino consiste na purificação da alma por meio de uma descarga emocional provocada por um drama. Traduzindo, sabe quando você come aquela comida que te faz mal, você sente enjoos e passa mal? Pois é, você vomita tudo aquilo e fica bem. É exatamente isso! Acredito que a catarse deve ser um exercício diário; muitos são afligidos diariamente e acabam por se tornar um depósito ambulante de problemas. Sentem-se pesados em momentos que mais precisam de paz. Não é fácil exercitar a catarse, mas é necessário. Quando nos sentimos desestimulados devido as constantes dificuldades jogar a toalha parece ser o caminho mais fácil. A prisão da mente, se não for profundamente conhecida, torna-se intransponível. O maior inimigo que enfrentamos é o nosso ‘eu’. Freud, em ‘O Mal-estar na Civilização’ diz: cada um tem descobrir a sua maneira particular de ser feliz. Este é, definitivamente, um caminho solitário.

freedomNeste ponto encontramos a dificuldade. Como praticar a catarse, que consiste em você falar dos seus problemas, sozinho? Como não depender de alguém para ser feliz? Estamos constantemente fazendo do outro nosso objeto de felicidade. Queremos alguém que nos ame, alguém que nos compreenda, alguém que saiba exatamente o que dizer quando estamos mal, alguém que nos agrade… Traduzindo, somos um bolo de carne querendo ser amaciados. Haja ego pra tanto desejo! Mas será que nós somos capazes de passar tanta perfeição em frente? Por que acharmos que temos moral para exigir isto de alguém? A catarse não é o caminho mais fácil. Ninguém gosta de expurgar nada de si. Dói, incomoda, cheira mal, você fica fraco, vulnerável. Mas acredite, carregar o mal dentro de si é bem pior. Acredito que o primeiro passo seja reconhecermos que somos tão falhos e necessitados perdoar àqueles que nos ofendem tanto quanto necessitamos ser perdoados de nossos erros. Eu tenho aprendido isto na minha jornada. Quantas vezes julguei pessoas que erraram por eu ter provocado o mal. Mas uma dia a ficha caiu e eu precisei reconhecer tudo que fiz de errado. E tantas outras coisas que precisei expurgar de mim, e ainda preciso. A jornada não é fácil. Muitos desistem da caminhada e desejam morrer para se ver livres do sofrimento. Morrer é a parte fácil. Talvez, nossa maior prova de coragem seja viver. Então, sejamos corajosos e vivamos…

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