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Exalando a Alma

Reflexões de uma alma solitária

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Farsante

magoasSou cristão apesar de não frequentar igreja. Fui criado em uma igreja evangélica e frequentei esta igreja até os meus 28 anos, logo, conheço por dentro este movimento e suas doutrinas que, apesar de variações, têm uma mesma base, que são os ensinos de Cristo. Ser um bom cristão é muito difícil pois, ao passo que você não deve julgar os outros e tem o dever moral de amar e ajudar seu próximo, você também não pode ser conivente com os erros deles para não acabar sendo cúmplice do pecado do seu próximo. Um dos pecados que a Bíblia diz que não tem perdão (são dois), é exatamente a falta de perdão (Evangelho de Mateus cap. 6 versos 14 e 15). Eu, sendo cristão, não sou perfeito, erro e erro muito. Mas eu tento reconhecer meus erros e tento pedir perdão àquelas pessoas que magoo. Mas o que eu observo é que no meio evangélico o perdão é um bem de consumo luxuosíssimo e extremamente caro. Eu faço de tudo para não guardar rancor (não sou hipócrita, sei que tenho muitos rancores, principalmente contra o sistema em que fui criado), mas tento perdoar as pessoas. Pode não parecer, mas tenho um coração mole; quando alguém me pede perdão eu não hesito, perdoo mesmo. Só que nem todos são como eu. Eu tinha um amigo, uma boa pessoa, a quem eu causei algumas feridas de forma involuntária. Ele é evangélico. Me afastei dele em 2010, esperei a poeira baixar e recentemente o procurei apenas para pedir perdão. Me arrependi de tê-lo feito. Às vezes é melhor deixar o estrago feito e seguir a vida. Sei que não tenho moral para criticá-lo, eu, na minha inocência, lhe causei alguns males, mas fiquei imaginando de que adianta professar uma fé cujas bases são negligenciadas? Eu fui atrás do perdão porque quero ele, preciso de um palimpsesto na minha consciência. Infelizmente na minha vivência com os evangélicos sei que este meu ex-amigo faz parte da regra e não da exceção. Mas não posso julgá-lo. Não sei se o meu veredicto foi merecido, mas foi dolorido. Há meandros da história que são desconhecidos por nós dois. Fico imaginando como uma amizade, a única que tive na vida, começou tão bem e acabou tão mal? Creio que a minha solidão criou necessidades em mim e eu cobrei do outro quando eu, e apenas eu, deveria ser o responsável por suprí-las. Eu me sinto um cristão farsante, pois quero do outro o que muitas vezes eu não tenho para passar em frente. Mas há um crime em querer perdão, amor e compreensão? Creio que todos buscamos isso alguma vez em alguém, não sou o único. Seja como for, a ferida foi aberta em ambos, e o único remédio nos é negado.

Fracassado

É como se os nossos medos tivessem ganhado a capacidade de se autoperpetuar e se autofortalecer; como se tivesse adquirido um ímpeto próprio – e pudessem continuar crescendo unicamente com base nos seus próprios recursos. –Zygmunt Bauman, Modernidade Líquida

Entender o que passa conosco é uma tarefa complicada. Nós erramos, acertamos, praiaerramos de novo, tentamos acertar, erramos, tentamos consertar as coisas, alguns desistem outros esperam e outros continuam tentando (e errando, diga-se de passagem). Acho que sou uma mixórdia disso tudo. Hoje parei para analisar alguns acontecimentos da minha vida em que eu veementemente culpei os outros e, de verdade, senti vergonha de mim mesmo ao descobrir que fui o único culpado, algumas destas coisas até relatadas aqui no blog. Nossa, e como sempre, tenho um espírito irrequieto que tenta consertar aquilo que foi escangalhado, mas como é difícil lidar com as pessoas. Perdão custa caro demais, algumas vezes o preço é simplesmente impagável. Isso me entristece pois tenho consciência que todos erramos e todos queremos uma segunda chance, mas são pouco que estão dispostos a nos dar essa segunda chance. Muitas vezes, situações nos deixam com medo de tentar, e o medo só cresce, o tempo passa e quando se olha para trás percebe-se que poderíamos ter feito algo, mas simplesmente deixamos passar e ai vem o sentimento de fracasso, os questionamentos e tudo o mais.

Sei que não sou perfeito, sou um cara que teme muita coisa, me falta poesia para imagesver a vida com outros olhos e sobram julgamentos por não ser o paradigma aceitável de um homem do século XXI. Tenho medo constante e crescente de cometer os mesmos erros do passado, sei que mudei muito, mas tenho uma natureza e esta não me deixa em paz, incomoda constantemente. Maturidade é uma árvore que demora a crescer e requer cuidados especiais, muitas vezes é regada com lágrimas e adubada com muita vergonha, mas espero poder provar seus frutos e espero que sejam doces. Por estes dias me surpreendi quando alguém que sei que magoei muito me procurou, mas a frieza com que fui tratado me fez questionar se valeu a pena ter sido procurado (confesso que fui atrás algumas vezes). Sim, senti um fracassozinho pinicando meu ego por não ser capaz de lidar com meus sentimentos e com os sentimentos alheios… Odeio criar expectativas, mas não consigo evitar. A esta altura da vida já deveria ter aprendido a lidar melhor com as pessoas. Sinto vergonha de quem fui um dia. Acho que ainda sinto vergonha de quem sou. A vergonha é um sinal que carregamos para sempre. Alguns se habituam, outros a sentem latejar.

Talvez seja simplesmente inútil parar um momento para escrever sobre estes tristezatemores, escrever sobre meus fracassos, já que muitos consideram isto uma perda de tempo, e deveríamos simplesmente celebrar a beleza da vida blá, blá, blá, mas eu sei que a vida é cheia de vicissitudes, e nem só de beleza se vive, já que o que mais nos ensina a viver é a dor. A dor é a melhor professora que teremos, a melhor amiga, para alguns (reconheço que não é meu caso) ela é a única. Mas aqueles que sentem a dor sem medo são os seres humanos mais nobres que encontraremos. Talvez eu celebre minhas dores um dia, sentindo orgulho de cada ferida de batalha, assim como um soldado que, apesar das marcas, sabe que seu sofrimento foi para um bem maior. Quem sabe este dia venha a raiar amanhã mesmo. Até lá, só posso continuar tentando aprender a viver, já que não me dou a opção de sucumbir. Que venham os fracassos, eles não são os únicos galardões!

 

Qual o sentido?

Mas aqui não existem juízes. É só a guerra, guerra sem fim, e o máximo que a gente pode fazer é tentar não estar do lado errado. Mas quem, em nome de Deus, sabe qual é o lado certo? –Bernard Cornwell, 1356

Viver é sofrer, isso tem sido um axioma para muitas pessoas. Acordar em um dia chuvoso e tentar ter esperança de que dias melhores virão não é suficiente. A esperança escorreu pelos dedos e só nos resta inventar uma forma de sobreviver. Não, não é apenas lamento, é dor, pungente e tangível, de quem já não sabe mais o que fazer. Nós só temos paz quando nossos inimigos estão cansados demais para fazer guerra, só que o inimigo da maioria das pessoas é invisível, intangível, insensível… Senhor, viver da medo! Não que o medo seja desnecessário, afinal, ele nos dá limites, mas medo a ponto de você derramar sua alma como água corrente não pode fazer bem algum. Tenho sentido uma falta de esperança tão forte no meu coração. Me pergunto, pergunto a Deus por quê? Por que não consigo mudar, por que não consigo correr atrás de algo diferente? Qual o motivo? De novo, e de novo. Algumas vezes tento fazer de conta que não tenho problema, mas isso não o faz desaparecer. O futuro é apenas uma sombra, e como diria Pablo de Queiroz, tenho saudades daquilo que não vivi…

Penso na morte todos os dias. Ela nos espreita tão de perto, a vida é tão frágil, tão descartável. Sinceramente, sinceramente mesmo não há um dia que não me questione pra que existimos. Se tudo vai acabar, pra que, por Deus, eu precisei nascer, eu precisei existir, e existir para mim tem sido o mesmo que não existir. Por que existe algo? Por que não o nada. Uma existência vazia de significado não vai fazer de mim uma pessoa melhor. Me falta entendimento para tantas coisas. Queria ser capaz de ter um breve deslumbre que fosse do significado da vida, quem sabe eu pudesse mudar algo. A religião tenta dar estas respostas, mas francamente, quando eu era evangélico me sentia mais perdido que hoje. Não deixei de acreditar em Deus e me forço todos os dias para acreditar que Ele tenha algum propósito, mas não posso ser falso ou leviano com meus sentimentos (o que, na verdade me fez abandonar a Igreja, já que não conheço um evangélico ou católico capaz de ser sensível a dúvida alheia), não consigo ver sentido. O que vejo é uma guerra, e sinceramente, não sei se luto do lado certo. Só sei que estou ferido e sangrando como muitos no campo de batalha que é a vida. Só espero estar inteiro ao fim da guerra.

Simplicidade

Um trauma nos marca definitivamente. Lidar com traumas e medos sozinho não é tarefa fácil. Nossa! Apesar de ser gay, eu odeio esse rótulo. Parece que ele traz um peso consigo que poucos, de fato, conseguem lidar com ele. A vida tem se tornado difícil ultimamente. Já não tenho ânimo nem mesmo para escrever aqui no Blog. Vou iniciar tratamento com antidepressivo, estou a procura de um emprego, de estabilidade mental e física, quero um canto só meu… Ah! A vida poderia ser mais simples. Hoje não faço questão de fazer sentido, vou me desconectar inclusive do bom senso, só quero falar. Tem uma música cuja letra diz: esse meu ódio é o veneno que eu tomo querendo que o o outro morra”, e é assim que me sinto. Como já falei algumas vezes aqui no Blog, tive uma relação difícil com meu pai. Esta madrugada tive mais um pesadelo com ele (como sempre costumo ter). Sei que os sonhos são a forma de nosso subconsciente descarregar seus fardos (e escolhe o pior horário, ou melhor, o único horário que damos a ele, que por sinal é péssimo), e sei que meu subconsciente está carregado de ódio. Mas a pessoa de quem mais sinto ódio é de mim mesmo. Por que não tive forças pra lutar? Por que me deixei dominar? Por quê? Não sei, e do que sei não gosto de saber. Já fui tachado de bicha, bebê chorão, frouxo, idiota, ridículo, sem noção, coisas que prefiro esquecer, mas o pior adjetivo é o que vejo estampado na minha testa: covarde! Eu queria uma vida mais simples. Queria não ter medo de errar, não ter receio de perder, ter coragem de assumir que eu sou, mas dia após dia levanto, coloco minha máscara de um cara normal que é feliz por ter um carro e uma casa (já que é o motivo que todos dizem que eu tenho) e sigo empurrando a vida com a barriga. Sei que preciso tomar uma atitude, mas que atitude posso tomar? Nem chorar consigo mais, as lágrimas secaram. A esperança se esvaiu de minhas mãos… Se você, que lê esta postagem, acredita em Deus, peça a Ele por mim. Quem sabe Ele vai ter misericórdia desse pobre ser que vos escreve… Enquanto isso sigo imaginando: e se tudo fosse diferente? E se…

Doce fel

A alma resiste muito mais facilmente às mais vivas dores do que à tristeza prolongada. -Jean-Jacques Russeau

Mais uma vez volto a minha falta de entendimento do propósito de viver, e isso acaba comigo. Bom, a tristeza é algo que sempre vai ser recorrente a todas as pessoas, ainda que muitos não a demonstrem publicamente, mas seus travesseiros amanhecem dia após dia encharcados de lamentos e sofreguidão sem precedentes, já que todo dia a tristeza é a mesma, mas é como se fosse uma nova dor atingindo o peito. Nada muda. Li em um certo livro que as piores dores nos trazem as lembranças mais vivas. Por que será? Penso que quanto mais tememos algo, mais esse temor nos acomete. Talvez devido nos focarmos demais nele e deixa tudo o mais ao relento. Bom, com alguns é assim. Gustave Flaubert disse que a tristeza é um vício. De fato, ela vicia e nos torna verdadeiros adictos em ver mal a espreita. Não me julgue meu caro leitor, se você é feliz aproveite ao máximo sua felicidade. Eu não sou, eu não sei o que é felicidade! Eu escrevo porque as palavras são minhas melhores amigas. Elas me entendem e eu ainda tento compreender o mistério que as cercam.

Traduzir uma dor é quase impossível. Um relance, um momento preso em uma fotografia pode nos dizer algo, mas a dor só pode ser conhecida por que a sente. E senti-la e algo de que todos nos fugimos. A dor se torna uma amiga mal compreendida. Acredite, uma vida sem dor é uma vida de autodestruição. Que digam os portadores de Síndrome de Riley-Day. Não defendo uma vida de sofrimentos, defendo uma vida de equilíbrio. Mas infelizmente eu não consigo achar esse equilíbrio. Tento me apegar com Deus mas continuo vazio. Como seres sociais dependemos sim dos outros. Mas infelizmente a maioria das pessoas não se importa conosco, a não ser que tenhamos algo em troca para oferecer a elas. Infelizmente o amor puro e simples deixou de ser valioso. É preciso gerar lucro palpável. Certo escritor disse que a vida se alimenta da vida. Mas a vida tem sido uma fonte de fel, amarga e sem sentido. Será que alguém consegue, de fato, ser feliz aqui? Eu não sei. Não sei se um dia saberei…

Morto por dentro

A vida era muito mais intensa quando não passava, na média, de quarenta anos. Agora é um longo, um interminável arrastar de correntes: nós somos as almas penadas deste mundo. –Mario Quintana

Muitas vezes me pego pensando o que os criadores das propagandas da televisão têm em mente além, é claro, da vontade de vender um produto. Quem, por Deus, pode espelhar sua vida num falso paradigma de perfeição? Sou formado em marketing, e sei que há uma boa dose de mentira em tudo que se passa na TV, das propagandas as novelas que assistimos. Quem realmente acredita que todos estão sempre motivados a andar por ai sorrindo, tendo uma postura niilista ante seus problemas? Tenho uma boa dose de culpa em não conseguir simplesmente aceitar isso, mas, por mais errado que eu esteja, já não consigo ver sentido na vida. Hoje indo para a faculdade desci do ônibus e segui três quarteirões ouvindo umas músicas, daquelas que se adaptam fácil ao nosso humor, e chorei. Por fora apenas lagrimei levemente, mas por dentro gritei, gritei alto o bastante para ninguém ouvir. Olhei as pessoas ao meu redor e senti vontade de fugir, pois o mundo está tão cheio, mas de nada adianta. Questionei Deus qual o sentido da vida, da minha em particular. Por que não consigo ver sentido em nada? Se um dia tudo acaba, qual o sentido de se ter um começo? Eu sou uma cova, nada mais. Viver tem sido um fardo, hoje estou deveras angustiado, mas é só mais um dia que tenho que atravessar. Confesso que, apesar de não ver sentido nesta existência, cessá-la ainda me assusta. Quero ter a esperança de que algo ainda possa mudar. Neste momento reflito apenas na letra de uma música:

And I still wonder why heavens has died, the skies are all falling, I’m breathing but why…

Os dias, muitas vezes, se resumem em vontade de sair de casa quando estou em casa e vontade de voltar pra casa quando estou fora. Construir uma história e apostar suas fichas é perigoso quando você simplesmente vê seus sonhos ruírem diante dos seus olhos e você nada pode fazer. Chorar faz parte da vida, mas regá-la apenas com lágrimas de tristeza a torna insuportável. Ninguém quer viver a custa de sofrimento. Sei que muitos se arrastam assim pela existência, mas este conhecimento apenas aperta mais ainda meu peito e me deixa com uma sensação de inútil inaptidão. Tento me apegar com Deus, às vezes funciona, às vezes não. Cheguei em um momento que preciso ver algo de concreto acontecer, pois as palavras já perderam significado faz tempo. Sinto-me assim, morto por dentro, andarilho em mim, tentando encontrar uma saída ao longo dos muros que me cercam…

Ainda há vida…

A vida se alimenta da vida. –André Cancian

Árvores são interessantes. Vivem morrendo e morrem vivendo. Trocadilho sem noção, eu sei, mas eu as admiro por serem capazes de suportar estações e até mesmo eras sem nunca reclamar de nada. Observando algumas árvores que tem em frente a minha casa percebi que em um espaço de dois dias algumas delas perderam todas as suas folhas. Quando me aproximei vi que estavam infestadas de lagartas. Algumas lagartas são nojentas, outras até têm um atrativo, mas todas precisam se alimentar da vida de uma árvore para manterem suas vidas enquanto entram e metamorfose. Não é a primeira vez que acontece, elas já sobreviveram a uma praga antes. Muitas lagartas foram devoradas por pássaros, outras seguiram seu propósito. Bom, biologia não é meu forte, mas sei que as árvores têm vida dentro de si, a seiva que corre em seus troncos e galhos as mantêm vivas e capazes de suportar o mais rigoroso dos invernos. Acredite, existem árvores que vivem por milênios, e não pensem que são aquelas frondosas lindas e gigantes. Algumas não daríamos nada por elas, mas elas têm história, atravessaram muita coisa e hoje continuam de pé e verdejantes com suas raízes profundas.

Acredito que nós precisamos aprender com elas. Adoro ouvir a história de vida das pessoas, não aquelas histórias de quem venceu na vida e tudo o mais (soa tão falso), gosto de ouvir as histórias de quem sofre, de quem acorda todo dia sem saber se vai acabar o dia bem ou, sequer se vai acabar o dia. Pessoas que lutam contra seus demônios todos os dias e ainda são capazes de acordar todo dia e seguir em frente mesmo tendo um trator em suas costas. Entrei a madrugada de hoje ouvindo mais uma destas histórias, e ah!… como é difícil ouvir de alguém que amo tanto. Mas estas pessoas muitas vezes não percebem a força que têm dentro de si, de como são capazes, mesmo com toda dor, de acordar todo dia e seguir em frente, se arrastando muitas vezes, mas nunca parando, porque sabem que parar não é uma alternativa válida. Desculpem-me a expressão, odeio palavrões, mas francamente DANE-SE os grandes, os belos, os vitoriosos, os ricos e famosos, vocês não têm absolutamente nada que eu possa admirar, suas histórias em nada me inspiram. À pessoa muito amada que se abriu comigo esta madrugada, você tem todo meu apoio, meu ombro, meu sorriso e minhas lágrimas. E se você que lê este post é uma pessoa que também não sabe, não tem ideia e como conseguiu chegar até aqui, você não está sozinho! Siga em frente, mesmo sem saber o que fazer. A vida da voltas, um dia tudo muda! Lembre-se: VOCÊ É CAPAZ!

Tanatose inversa

Nesta guerra constante que é a vida às vezes precisamos de estratégias para 293014_547908721927222_487310199_nsobreviver. Não entendo de estratégias de guerra, mas já ouvi alguns relatos interessantes de pessoas que sobreviveram por pura astúcia e uma boa dose de atuação. Na natureza é normal encontrar animais que sobrevivem graças as suas habilidades de fingimento, e uma delas é a tanatose. Tanatose nada mais é que se fingir de morto para escapar de um inimigo. O perigo é que podemos fingir bem demais e acabar imóveis para o resto da vida. Mas cada batalha trás seus riscos, e para sobreviver qualquer fim justifica o meio. Na guerra e matar ou morrer. Mas há aqueles que estão mortos por dentro e se fingem de vivos (o que poderíamos chamar de zumbis, mas não acho o termo muito apropriado). Admiro muito Zygmunt Bauman e, em uma de suas entrevistas ele critica o modo de vida ocidental, onde prezamos mais pelo individualismo que pelo comunitário. Assim, tomamos nossa dose de infelicidade diária satisfeitos por termos tudo, menos certeza de onde vamos parar, e cada vez mais afundamos em crises. E o amor onde foi parar?

A vida tem sido um pouco desconcertante para mim. Já sei que consigo me dar bem com as pessoas a distância, não sei conviver em grupo, não sou social, tendo aos padrões dadaístas (e.g. forte caráter pessimista e irônico, principalmente com relação aos acontecimentos políticos do mundo) e, obviamente, este é um caminho solitário a ser seguido. O mundo ocidental se idiotizou, esta que é a verdade. Queremos viver de otimismo e esquecemos que todos caem, todos falham, e no fim, todos morrem (redundante não? Se você pensa assim, você deve ser um dos que se esquecem deste fato e acha besteira pensar nele, como se a morte fosse evitável). Quisera eu ser daquelas pessoas que sabem dar a volta por cima e são paradigmas de comercial de dentifrícios… Mas não sou. O mundo se esquece que a balança precisa de dois pesos para se equilibrar. Normalmente sou dos que se sentem mortos e vivem com uma capa de sorriso, não para ser falso, mas para evitar ouvir críticas de pseudo-sábios populares que sequer se importam se estou bem ou mal de verdade. Tenho um travesseiro por confessionário, e francamente estou satisfeito com ele. Talvez amanhã meu humor melhore, talvez piore, mas por hora, estou deitado reduzindo meus batimentos cardíacos esperando a hora certa de fugir…

Aprendendo a morrer

A vida é um caminho, a morte o destino. –Demon Hunter ‘I have seen where it grows’

Da Vinci certa vez se expressou que quando ele estava aprendendo a viver ele descobriu que na verdade estava aprendendo a morrer. Não flerto com a morte, mas a admiro. Há pouco assisti ao vídeo de um parto, achei uma coisa linda ver o mistério que envolve o geração de uma vida. Mas refleti que a vida é um paradoxo, pois no momento em que você começa a viver você também começa a morrer. Qual o proposito da vida? Simplesmente cessar. Não importa o quanto lutemos contra, um dia eu e você cessaremos de existir, e pode ser a qualquer momento, de qualquer jeito. Não é agradável pensar na morte, mas gosto de refletir no texto da Bíblia que diz:

Melhor é a boa fama do que o melhor unguento, e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém.
Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.
Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.
O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria. Eclesiastes 7:1-4

Este texto é do sábio Salomão, um homem que alguns consideram um mito, outros o consideram bem real. O senso comum diz que este é um livro de grande sabedoria. Salomão celebra a morte, não apenas dos homens, mas o fim de tudo. O fim pode ser um consolo para quem parte…

A questão que quero chegar é, será que nossa morte nos valerá boa fama? Leonardo Da Vinci entendeu. Epicúrio também. Na filosofia epicurista não há espaço para o medo. Qual sentido em temer o inevitável? Que proveito eu tenho em me preocupar com um destino do qual não posso fugir? Muitos tentam prolongar a vida, a juventude e tantas outras efemeridades que possamos imaginar, mas no final eu e você acabaremos não mais habitando entre os vivos. Quero deixar uma história. Há um poema de Mário Quintana que diz:

Quando abro cada manhã a janela do meu quarto É como se abisse o mesmo livro Numa página nova…

A vida não costuma dar segundas chances e, fato, para morrermos basta vivermos. Viva a vida com sabedoria. Viva a vida com esperança, consciente que um dia ela cessará, e que a posteridade poderá lembrar ou esquecer de você. Da Vinci foi lembrado como o maior gênio do renascimento. Talvez não alcancemos tamanha fama, mas quem sabe podemos alcançar uma recompensa no porvir.

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